sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Srinivasa Acharya


O pai de Srinivasa chamava-se Sri Gangadhara Bhatacharya. Mais tarde ele tornou-se conhecido como Chaitanya Das. Sua esposa chamava-se Sri Laksmipriya. Ele vivia às margens do Ganges num vilarejo chamado Chakhandi Gram.

Quando Sri Gaurasundara terminou Sua Navadwip-lila, foi ao ashram de Keshava Bharati para aceitar sanyasa, e notícias da conversa de ambos foram proclamadas à distância. De todas direçöes milhares e milhares de pessoas acorreram para ver o sanyasa de Sri Chaitanya Mahaprabhu. Na ocasiäo, Gangadhara veio de Chakandi Gram. Quando Sri Nimai Pandit estava para raspar Sua bela cabeleira, todos devotos começaram a chorar rios de lágrimas. O barbeiro foi incapaz de realizar seu trabalho de raspar o cabelo do Senhor. Seus olhos encheram-se de lágrimas, e näo conseguia mais enxergar. Mahaprabhu solicitou que usasse a navalha em Seu cabelo. Após algum tempo, Sri Madhu, o barbeiro, fez o trabalho de raspar a bela cabeleira do Senhor. O barbeiro gritou angustiado: "Que miséria causei! O que acabo de fazer?" e caiu inconsciente no chäo. Um grande tumulto de choro e lamentaçäo enchia as quatro direçöes. Quem conseguia consolá-los? A cena dava dó de se ver. Homens e mulheres ali näo conseguiam falar, e ao ver esta triste cena, os pássaros nas árvores também ficaram mudos.

Sri Gangadhara Bhatacharya estava chocado, e desmaiou no chäo ao ver a cena. Ao levantar-se novamente, estava meio louco. O único som que saía de seus lábios era: "Sri Krishna Chaitanya, Sri Krishna Chaitanya." Ele retornou a Chakandi Gram, mas como um louco ele continuava a cantar apenas Sri Krishna Chaitanya, Sri Krishna Chaitanya, de novo e de novo, baixinho, para si mesmo. Sua casta e fiel esposa ao ouvir sobre o sanyasa de Mahaprabhu, começou a chorar copiosamente. Todos brahmanas e suas esposas passaram dias chorando em grande agonia. Dessa forma, as pessoas de Nadia deram a Gangadhara Bhatacharya o nome "Chaitanya Das". A fim de tomar darshan dos pés de lótus de Sri Chaitanya Mahaprabhu, Chaitanya Das foi com sua esposa a Jaganatha Puri.

Quando Chaitanya Das finalmente chegou em Jaganatha Puri depois de täo longa jornada e conseguiu o darshan dos sagrados pés de Sri Chaitanya, Chaitanya Das e sua esposa chorando lágrimas de alegria, caíram perante o Senhor e ofereceram suas reverências. Sri Chaitanya chamou-os para perto de si e abençoou-os com Seu misericordioso olhar, dizendo as seguintes palavras doces: "Jaganatha está encantado por terem vindo. Väo tomar o darshan Dele. O Senhor de olhos de lótus está pronto a realizar seu desejo mais recôndito do coraçäo. O Senhor é supremamente misericordioso. A fim de receber a misericórdia Dele, vieram de longe, e Ele quer satisfazer o desejo de seus coraçöes. Väo agora e tomem darshan do Senhor Jaganatha."

Sri Chaitanya Dasa e sua esposa foram tomar darshan de Jaganatha. O servo pessoal do Senhor, Govinda, foi com eles. O bom brahmana e brahmani, ao verem o Senhor Jaganatha, choraram lágrimas de prema e ofereceram muitas oraçöes e hinos das escrituras do Senhor. Depois disso seguiram as orientaçöes do Senhor sobre aonde hospedarem-se, e foram até o local que Ele providenciara para a estadia deles. Durante alguns dias, Sri Chaitanya Das com grande alegria permaneceu em Jaganatha Puri.

Certo dia, por ser o Paramatma no coraçäo de todos e portanto saber tudo, Sri Chaitanya Mahaprabhu falou a Seu servo: "Govinda! O filho desejado pelo brahmana e sua esposa brevemente aparecerá. Srinivasa será seu nome, e será uma criança linda. Através de Sri Rupa e Sanatana manifestarei os bhakti-shastras. Através de Srinivasa, todos esses shastras seräo distribuídos. Que o brahmana e sua esposa rapidamente retornem a Gauda Desh." Recebendo as auspiciosas bençäos de Sri Chaitanya Mahaprabhu com grande êxtase, Sri Chaitanya Das retornou a Gauda Desh. Logo, no ventre da esposa brahmana de Chaitanya Das, foi concebida uma criança que encarnava a potência da misericórdia do Senhor. O nome do pai de Laksmipriya era Balaram Vipra. Ele era um pandit e astrólogo perito nos Jyoti Shastras. Conseguiu entender que do ventre de Laksmipriya uma grande alma, um mahapurush, logo iria nascer. O Bhakti Ratnakara registra que: "Naquela noite de lua cheia do mês de Vaishakha, na constelaçäo ou naksatra de Rohini, quando todas estrelas estavam alinhadas de forma auspiciosa, Laksmipriya deu a luz um menino." O brilho corpóreo do menino era refulgente como ouro derretido. Possuía um nariz longo, seus olhos alongavam-se até às orelhas, tinha um peito largo, e braços que se estendiam até os joelhos. Dessa forma, via-se que manifestava todos sintomas corpóreos de um mahapurush, ou grande alma.

Sri Chaitanya Das ofereceu o menino aos pés de lótus de Sri Chaitanya Mahaprabhu. No início das festividades comemorando o nascimento do filho, os pais deram profusa caridade aos brahmanas e suas esposas. Todos brahmanas e suas esposas tiveram grande prazer ao segurar a criança recém-nascida. Finalmente, a própria Laksmipriya pegou a criança no colo e o Gaura-nam kirtana começou. Ensinaram o menino a cantar o Santo Nome de Gauranga. Assim como a lua cresce de um pequeno crescente à sua forma brilhante e cheia, assim o menino gradualmente crescia e se tornava mais brilhante a cada dia que passava. Gradualmente chegou a hora da cerimônia de cortar cabelo e do cordäo sagrado. Depois dessa época, ele foi a Sri Dhananjaya Vidyavacaspati, onde começou a estudar gramática, poesia, retórica, e shastra. Dentro de pouco tempo tornou-se bem versado em todas diferentes matérias que lhe ensinavam, e sua visäo das escrituras reveladas era extraordinária.

Quando era uma criança pequenina, Srinivasa recebeu a misericórdia de Sri Govinda Ghosh Thakura e Narahari Sarakara Thakura. Depois de algum tempo, o pai de Srinivasa faleceu. Ao falecer seu pai, Srinivasa sentiu-se devastado pela dor. Todos devotos esforçaram-se ao máximo para pacificá-lo, porém ele estava inconsolável ante a perda de seu pai. Täo desconsolado estava ele que näo permitia que nenhum alimento ou bebida entrasse por seus lábios, e dessa maneira jejuou algum tempo.

Despedindo-se dos devotos dali, Srinivas e sua mäe deixaram Chakhandi Gram, e após alguns dias, chegaram a Yajigram na casa de Sri Balaram Vipra, o avô materno de Srinivas. Ouvindo sobre a mudança de Srinivas para Yajigram, as pessoas santas que ali viviam ficaram muito contentes. Ao verem a profunda erudiçäo de bhakti-prema de Srinivas, todos pandits e brahmanas em Yajigrama ficaram maravilhados. Ainda assim, o anseio do coraçäo de Srinivassa estava insatisfeito. Ele só conseguia pensar dia e noite em ver os pés de lótus de Sri Chaitanya. Logo ele se tornou muito ansioso para ir a Jaganatha Puri.

Para tomar darshan dos sagrados pés de Sri Narahari Sarakara Thakura, Srinivasa foi a Sri Khanda. Chegando lá, caiu aos pés de lótus de Narahari com sua mente cheia do êxtase de amor por Deus e começou a rolar no chäo, com a voz estrangulada pela emoçäo. Vendo seu maravilhoso amor por Krishna, Narahari abraçou-o. Srinivasa estava absorto na lembrança do Santo Nome de Sri Gauranga e chorava lágrimas de alegria. Entäo fez com que Narahari soubesse que aspirava ir a Jaganatha Puri para ver os locais santos da lila de Sri Gauranga. Sri Narahari Sarakara Thakura, Raghunandana Thakura, e alguns dos outros devotos que ali estavam, ao ouvir a proposta dele ficaram muito contentes e disseram: "Espere aqui mais alguns dias. Logo muitos dos devotos de Bengala iräo a Puri. Entäo poderás ir junto na associaçäo deles."

Srinivasa deixou Sri Khanda e retornou a Yajigram, onde contou para sua mäe seus planos de fazer uma grande viagem a Jaganatha Puri com os devotos. Ao ouvir sobre os desejos de seu filho, e vendo que a mente dele estava determinada, ela deu-lhe suas bençäos. Alguns dias depois ele partiu para Puri na companhia dos devotos de Bengala. Completamente tomadospelo júbilo interno, gradualmente chegaram a Jaganatha Puri à tardinha. Naquela noite hospedaram-se na casa de um panda que vivia perto dos portöes Simhadvara. Na manhä seguinte Srinivasa foi à casa de Gadadhara Pandit. Ao ver o Pandit, Srinivasa caiu no solo ante seus pés de lótus com lágrimas em seus olhos. Gadadhara Pandit afetuosamente pegou-o e abraçou-o. Enquanto recebia o abraço de Sri Gadadhara Pandit, Srinivasa chorava em separaçäo de Sri Gauranga.

Após permanecer na casa de Gadadhara Pandit por um dia, Srinivasa foi receber o darshan de Ramananda Raya, Sarvabhauma Bhatacharya, Vakreshvara Pandit, Paramananda Puri, Shikhi Mahiti, Govinda, Shankara, e Gopinatha Acharya, bem como muitos outros que eram associados eternos de Sri Chaitanya Mahaprabhu. Ao ver Srinivasa, todos esses devotos ficaram muito contentes. Ao ver o Gaura-prema sem precedentes de Srinivasa, os devotos conseguiam compreender que ele era Gaura-shakti, a energia do Senhor. Podiam entender que através dele a mensagem de Sri Chaitanya e das várias escrituras seria pregada. Sabendo disso, todos devotos internos de Sri Chaitanya deram diversas instruçöes importantes a Srinivasa. Dentro de poucos dias, tendo visitado todos mais importantes locais santos dos passatempos de Sri Chaitanya em Jaganatha Puri, Srinivasa despediu-se dos devotos dali para retornar a Bengala. Todos devotos abraçaram Srinivasa afetuosamente antes de sua partida. Após despedir-se de todos devotos, ele partiu pela estrada para Bengala. Quando já tinha andado pela estrada por algum tempo, ouviu que Sri Gadadhara desaparecera. Srinivasa afogou-se num oceano de separaçäo e começou a chorar e lamentar que dava pena! Naquela noite Sri Gadadhara veio-lhe num sonho e apaziguou-o. Depois disso, Srinivas novamente dirigiu-se a Bengala. No caminho ouviu notícias de que Sri Advaita Acharya e Sri Nityananda Prabhu haviam desaparecido. Srinivasa Acharya caiu no chäo, estarrecido. Ali passou a noite molhando o solo com suas lágrimas de tristeza em separaçäo. Naquela noite, por Sua misericórdia sem causa, Sri Nityananda e Sri Advaita apareceram a Srinivasa num sonho e apaziguaram-no. Gradualmente, Srinivasa chegou a Bengala.

Primeiro ele foi a Sri Khanda, onde ofereceu suas reverências aos sagrados pés de Sri Narahari Sarakara, Raghunandana Thakura e os outros devotos. Tendo conseguido suas bençäos, foi a Sri Mayapur em Navadwip. Ao ver a terra-natal sagrada de Sri Chaitanya, Srinivasa caiu ao solo com a voz embargada de êxtase. Na casa de Sriman Mahaprabhu ele achou Vamshivadananda Thakura. Srinivasa prestou suas reverências aos pés de lótus de Vamshivadananda. Quando ficou sabendo quem ele era, ficou muito contente. Srinivasa gritou alto o Santo Nome de Sri Chaitanya. Srinivasa orou para obter o darshan dos pés de lótus de Sri Vishnupriya Devi. Na ocasiäo, Sri Vishnupriya näo lhe concedeu o darshan. Quando Vamshivadananda informou Sri Vishnupriya sobre o intenso desejo de Srinivasa por obter o darshan dela, e solicitou repetidamente que ela se encontrasse com ele, ela assentiu e deu ordem para que Vamshivadananda Thakura trouxesse Srinivasa até ela.

Ao vê-la, Srinivasa caiu ao solo com lágrimas de prema, prestando reverências prostradas. Sri Vishnupriya Thakurani deu suas bençäos a Srinivasa, e disse-lhe que ficasse e tomasse prasada.

Devido à separaçäo de Sri Gauranga, Sri Vishnupriya Thakurani tornara-se magra como a lua minguante de Krishna Chaturdasi, quando mal se percebe o esguio crescente lunar, pouco antes da lua nova. Sua prática consistia em separar um gräo de arroz para cada rosário de mantras Hare Krishna que cantava. Ao final do dia ela cozinhava esse arroz que separara e oferecia para a deidade de Mahaprabhu. Entäo ela aceitava apenas o suficiente para manter seu corpo e alma ligados. Em Navadwip, Srinivasa tomou darshan de muitos Vaisnavas inclusive Sri Murari Gupta, Srivasa Pandit, Damodara Pandit, Sri Sanjaya, Shuklambara Brahmachari, e Gadadhara Das.

Após permanecer alguns dias em Navadwip Dham, ele foi a Shantipura para a casa de Sri Advaita Acharya e tomou darshan dos santos pés de Sri Sita Thakurani, a eterna esposa de Sri Advaita Acharya. Sita Thakurani, devido à separaçäo de Sri Chaitanya Mahaprabhu, mal mantinha seu corpo e alma ligados. Ela deu suas bençäos a Srinivasa. Ele visitou muitos outros devotos em Shantipura e ofereceu seus respeitos e oraçöes a eles. Gradualmente dali ele foi para Khadadoha.

Em Khadadoha, na casa de Sri Nityananda Prabhu estava hospedado Sri Parameshvari Thakura. Ele trouxe Srinivasa perante Sri Vasudha e Sri Jahnava, as esposas de Nityananda, e Sri Birchandra, filho de Nityananda. Srinivasa, com lágrimas de prema em seus olhos, prestou seus dandavat pranams perante essas grandes almas e, enquanto assim fazia, Sri Jahnava colocou seus pés de lótus em sua cabeça e abençoou-o com a poeira de seus pés de lótus. Todos eram muito afetuosos para com Srinivasa. Dessa maneira ele passou alguns dias em Khadadoha. Finalmente Sri Jahnava Mata ordenou que ele fosse para Vrindavana Dham. Aceitando sua ordem sobre sua cabeça, ele visitou Khanakula, onde foi à casa de Abhirama Gopala. Depois de oferecer seus respeitos a Abhiram Gopal Thakura, este deu três golpes em Srinivasa com seu rebenque chamado Jaya-mangal, ou "Vitória da auspiciosidade". Sua esposa Sri Malini Devi, ficou irada e proibiu que continuasse, por compaixäo por Srinivas. Ela segurou a mäo de seu marido e forçou-o a parar de açoitar Srinivas. Ao ser açoitado pelo rebenque transcendental de um devoto puro, o corpo de Srinivasa ficou tomado do êxtase de Krishna-prema. Srinivas humildemente ofereceu suas oraçöes a Abhiram Gopala e suplicou por suas bençäos para retornar a Sri Khanda.

Em Sri Khanda, ao ver novamente Narahari Sarakara Thakura e Raghunandana Thakura, Srinivasa ficou muito feliz. Finalmente retornou para casa em Yajigrama e quando chegou novamente ao próprio lar, novamente prestou reverências aos pés de lótus de sua mäe. Entäo contou a ela sobre a ordem que recebera de Sri Jahnava Devi para ir a Vrindavana, e orou por suas bençäos para ir até lá. Sua mäe deu suas bençäos com grande prazer. Srinivasa logo partiu para Vrindavana. No caminho ele parou em Gaya e tomou darshan dos pés de lótus da deidade de Vishnu no local onde Mahaprabhu encontrou Isvara Puri e tomou iniciaçäo dele.

Após ficar em Gaya por dois ou três dias, ele chegou a Kashi e à casa de Chandrashekhara. Também encontrou com muitos outros devotos ali. Ao ouvir diretamente de Tapana Mishra e Chandrashekhara sobre os diferentes passatempos que Mahaprabhu realizara enquanto estivera em Kashi, Srinivasa nadava no oceano de néctar. Depois de alguns dias ele deixou Kashi.

Brevemente chegou a Mathura. Tomou banho no Vishrama Ghat. Foi no Vishrama Ghata que Sri Krishna descansou após matar o demoníaco Rei Kamsa. E por essa razäo chama-se Vishrama Ghata, ou "Local de Descanso". Srinivasa visitou o sagrado local de nascimento de Krishna e tomou darshan da Deidade Adikeshava e entäo virou em direçäo de Vrindavana. No caminho para Vrindavana, ele encontrou com muitos brahmanas residentes de Vrindavana, que lhe disseram que Raghunatha Bhata Goswami e outros grandes devotos acabavam de falecer. Ao ouvir isso, ficou muito triste. Começou a chorar e caiu no chäo, em agonia de separaçäo. Os brahmanas que estavam com ele de alguma maneira ajudaram-no a chegar ao local onde estava Srila Jiva Goswami. Sri Jiva Goswami ouvira falar de Srinivasa. Srinivasa ofereceu seus respeitos aos pés de lótus de Sri Jiva Goswami, que o abraçou com grande afeiçäo. Depois disso, ambos tinham muito a dizer. Srila Jiva Goswami, que era de Bengala, queria saber notícias sobre o bem-estar de diferentes Gaudiya Vaisnavas, e depois que se falaram por algum tempo, Jiva Goswami arranjou prasada e um local para Srinivasa ficar.

Naquele dia, Krishna Pandit, o servo da Deidade de Govinda, trouxe prasada para Srinivasa. Srinivasa tomou prasada com o próprio Jiva Goswami. Foi na tarde do dia de lua cheia do mês de Vaishakha que Srinivasa chegou em Vrindavana, no local de Jiva Goswami. Na manhä seguinte ele foi com Jiva Goswami e tomou darshan das Deidades Radha Raman. Também viram Gopal Bhata Goswami. Gopal Bhata Goswami ficou muito contente por ver Srinivasa. Srinivasa ofereceu seus respeitos aos pés de lótus de Gopal Bhata Goswami com grande humildade e suplicou-lhe que o iniciasse no divino mantra. Gopal Bhata Goswami com grande alegria concordou em iniciá-lo. No dia seguinte, no templo de Sri Radha-Raman, Sri Gopal Bhata Goswami deu mantra diksha a Srinivasa. Um dia após ser iniciado, Srinivasa foi ao Radha-Kunda onde Raghunatha Das Goswami costumava ficar. Ali ele encontrou Krishna Das Kaviraja Goswami, Raghava Pandit, e muitos outros grandes devotos e ofereceu seus respeitos a todos eles. Durante três dias ele ficou no Radha-Kunda e recebeu muitas instruçöes dessas grandes almas sobre bhajans. Tendo recebido as bençäos de todos devotos ali no Radha-Kunda, Srinivasa novamente retornou a Vrindavana para o refúgio dos pés de lótus de Sri Jiva Goswami.

Por fim, Sri Jiva Goswami ensinou o Srimad-Bhagavatam e as escrituras dos Goswamis a Srinivasa. Dentro de pouco tempo Srinivasa conhecia de cor todos sidhantas da literatura dos Goswamis. Devido a sua extrema perícia na filosofia, Jiva Goswami deu-lhe o título de "Acharya". A partir daquele dia em diante ele se tornou famoso entre os Gaudiya Vaisnavas como Srinivasa Acharya.

Srinivasa Acharya ouvira anteriormente sobre Narotama Thakura, porém no ashram de Jiva Goswami acabou encontrando-o pessoalmente. Desde seu primeiro encontro, Srinivasa e Narotama tornaram-se amigos por toda vida. Jiva Goswami ordenou que ambos vagassem pela floresta de Vrindavana com Raghava Goswami. Com a ordem do guru deles passaram a realizar a jornada pelas florestas de Vrindavana. Sri Raghava Pandit era um brahmana do sul da India, e era unicamente devotado a Sri Gaurasundara e muito querido Deste. Srimad Kavi Karnapura aponta em seu Gaura-ganodesha-dipika: "Aquela pessoa que certa vez foi a querida gopi amiga de Radharani e cujo nome era Champakalata, mais tarde apareceu como Sri Raghava Goswami e viveu em Govardhan onde adorava a Deidade de Giridhari em grande êxtase.

Sri Narahari Chakravarti dedica cinco capítulos de seu Bhakti-ratnakara discutindo em grande detalhe como Srinivasa e Narotama junto com Raghava Goswami vagaram através dos 64 kroshas de Mathura Mandala.

Após vagar através das doze florestas de Vrindavan por algum tempo, eles novamente retornaram para Jiva Goswami. Nessa época, Dukhi Krishna Das (Shyamananda Prabhu), acabava de chegar de Gauda-desha. Sri Jiva Goswami ao vê-lo ficou muito contente. Dukhi Krishnadas era o querido discípulo de Sri Hridaya Chaitanya Prabhu. O próprio Sri Hriday Chaitanya Prabhu enviara Dukhi Krishna Das para estudar na escola de Jiva Goswami. Jiva Goswami indagou sobre as notícias dos devotos de Bengala e de Utkala, perguntando sobre o bem-estar de cada um deles.

Depois disso, Dukhi Krishna Das foi apresentado a Srinivas e Narotama. Os três tinham sido ornamentados com todas boas qualidades e logo iniciaram uma amizade que iria durar pelo resto de suas vidas. Os três cultivaram uma profunda compreensäo das escrituras dos Goswamis, estudando-as aos pés de lótus de Srila Jiva Goswami. Dessa forma eles ficaram com Rupa Goswami que ensinou tudo àqueles fieis e queridos discípulos dele, até que a compreensäo deles fosse perfeita.

Naquela época, os Goswamis de Vrindavana decidiram enviar Narotama, Srinivasa, e Shyamananda a Bengala para divulgar as escrituras dos Goswamis e pregar. Os três eram extremamente renunciados e altamente versados nas conclusöes das escrituras bhakti-rasa. Depois disso, os três foram chamados perante os Goswamis, que esclareceram seu desejo que as escrituras fossem pregadas. Os três concordaram com grande entusiasmo em realizar a tarefa que lhes fora ordenada. Ficou decidido que os três partiriam num dia auspicioso. Escolheram o dia de Shukla-paksha do mês de Agrahayana.

Depois disso, primeiro ofereceram suas respeitosas reverências às três principais deidades de Vrindavan, Sri Govinda, Gopinatha, e Madana Mohan, e entäo estas três grandes almas, Shyamananda Prabhu, Narotama Thakura, e Srinivasa Acharya, foram enviadas por Jiva Goswami com as escrituras dos Goswamis para Bengala. Os livros foram cuidadosamente embalados numa arca e carregados num carro de boi. Dessa forma partiram com o carro de bois na estrada para Mathura, a caminho de Bengala. Era umalonga viagem, e eles se moviam de vilarejo em vilarejo, parando à noite num deles, e ali realizavam sankirtan e pregavam, tomavam prasada e descansavam. Gradualmente o carro de bois chegou em Vanavishnupura.

Vanavishnupura era a sede do Rei Birhambir, líder dos dacoítas, seita de ladröes da India. Um de seus ladröes informou que muitas pessoas estavam se movendo pela estrada com uma arca cheia de jóias carregada por um carro de bois que se dirigia rumo a Bengala. Reportou que acabavam de entrar em Vanavishnupura. O rei instruiu seus homens para que roubassem a arca de jóias do carro de bois. Os devotos finalmente chegaram a Vanavishnupura bem na hora em que o sol se punha. Após conferenciarem entre si, decidiram ficarem por ali aquela noite, e descansar às margens de um sarovara no vilarejo. Como muitas pessoas viviam ali perto, poderiam pedir que algumas tomassem conta do carro de bois e assegurar que nada fosse roubado. De fato, ao verem a refulgência desses Vaisnavas, e após ouvirem seus bhajans e kirtan, todo povo do vilarejo ficou maravilhado.

O Rei Birhambir repetidamente enviou diversos ladröes para obter notícias de seus movimentos. E aconteceu pela vontade da providência que após muitos dias, a meta de sua mente acabou se realizando. Certa noite especialmente obscura, os devotos estavam dormindo pacificamente às margens dum rio após tomar prasada, tendo deixado todas escrituras dos Goswamis dentro da arca no carro de bois. Estavam profundamente adormecidos. Nessa hora, vieram os ladröes e cuidadosamente roubaram a arca de livros e correram embora. Levaram a arca ao Rei Birhambir, conforme este ordenara. Quando o Rei viu a arca, pensou: "Jóias! Tesouros!" Sua mente se entregou ao júbilo. Chamando os ladröes perante si, recompensou-os com novas roupas e ornamentos e parabenizou-os pelo bom trabalho.

O Rei considerou: "Esta arca certamente veio do ocidente. Após muitos dias, finalmente obtive grande fortuna." Dessa forma, sua alegria näo tinha limites. Tinham dito que umas jóias valiosas estavam dentro da arca, e assim ele a queria. O Rei Birhambir possuía um astrólogo em sua corte, que lhe dissera que o que estava dentro da arca näo tinha preço.

Dessa forma, quando os devotos acordaram na manhä seguinte, viram que a arca contendo as escrituras dos Goswamis näo estava mais na carroça de bois. Sentiram-se como se tivessem sido acertados por um raio em suas cabeças. Começaram a procurar nas redondezas e perguntavam a todos. Porém ninguém sabia de nada. Näo encontraram nada. Os três ficaram próximos da morte devido à depressäo. Algum tempo depois, quando estavam mais calmos, disseram: "Quem pode entender a vontade de Govindadev? Quando embarcamos nessa jornada recebemos Suas bençäos. Foi por Sua vontade que todas escrituras dos Goswamis foram colocadas numa só arca." Dessa maneira os devotos falavam contemplativamente sobre o significado da tragédia que se abatera sobre eles. Lembraram que certa vez ouviram os Goswamis falar que Vanavishnupura tinha um rei que era líder de uma gangue de dacoítas. Esse rei era famoso por roubar toda sorte de coisas valiosas dos peregrinos que passavam pela estrada.

Nessa noite, o rei abriu a arca contendo as escrituras dos Goswamis. Após abrir a caixa, removeu o pano que encobria o conteúdo. Ali ele viu os livros queridos dos Goswamis. Abriu um dos livros e viu o nome "Sri Rupa Goswami" escrito na folha de palmeira. Quando viu a escrita infalivelmente bela de Sri Rupa Goswami, todos pecados que acumulara por toda sua vida de crimes imediatamente voaram para longe. Seu coraçäo foi purificado. De seu coraçäo puro surgiu o divino enlevo de Krishna-prema. Recolocando cuidadosamente as escrituras dos Goswamis na arca, o Rei retirou-se para se deitar naquela noite. Enquanto descansava, teve um sonho inusitado. Em seu sonho viu uma pessoa linda, cujo corpo brilhava com uma refulgência luminosa como uma montanha dourada. Seu sorriso era como a lua. Aí essa pessoa falou, dizendo-lhe: "Näo te preocupes. Logo virei e nos encontraremos. Nessa hora tua felicidade será incessante. Vida após vida serás meu servo eterno."

Quando o rei viu as escrituras na arca, imediatamente começou a se preocupar, pensando consigo mesmo: "A perda dessas escrituras sagradas certamente está causando problemas a alguém, em algum lugar. Isto será causa de grande ansiedade para mim." Em seu sonho a divina pessoa dissera: "ó Rei, näo te preocupes. A fim de recuperar o tesouro dessas escrituras brevemente virei encontrar-me contigo. Vida após vida serás meu servo eterno."

Os três devotos decidiram que Sri Narotama Thakura deveria ir a Kheturi Gram, Sri Shyamananda Prabhu deveria ir a Ambika Kalna, onde iria ao palácio do rei e recuperaria as escrituras dos Goswamis. Um brahmana residente de Vishnupura chamado Sri Krishna Valabha ficou fascinado ao ver Srinivasa Acharya e trouxe Srinivasa Acharya para sua própria casa onde adorou o Acharya apropriadamente com o devido respeito. Afinal, o Acharya iniciou-o no divino mantra. Havia outros presentes ali, que reconheceram Srinivasa Acharya como seu guru e aceitaram inciaçäo dele.

O Rei Birhambir sempre ouvia o Bhagavatam. Ao saber disso, Srinivasa Acharya queria ir ao palácio do rei e dar uma palestra sobre o Bhagavatam. Sugeriu essa proposta a Sri Krishna Valabha. Sri Krishna Valabha disse-lhe que o rei tinha muita fé no Bhagavata e nos sadhus. Disse: "Vamos ao palácio do rei hoje mesmo." Ao ouvir isso, Srinivasa Acharya rapidamente foi com Krishna Valabha ao palácio do rei. Quando Raja Birhambir viu a brilhante refulgência de Srinivasa Acharya, caiu ao solo oferecendo suas reverências prostradas. Na ocasiäo, ofereceu a Srinivasa um assento elevado, e guirlandas de flores fragantes. Depois disso, Srinivasa Acharya entoou as oraçöes guru-vandana a seu mestre espiritual numa doce voz, e começou sua explicaçäo do Srimad-Bhagavatam. Seu recital dos versos foi maravilhoso, e suas explicaçöes eram mais maravilhosas ainda. Após ouvir sua explicaçäo, toda a assembléia, incluindo o rei, derreteu-se em krishna-prema.

É dito que "só de ver um grande Vaisnava já se é purificado". O grande líder dacoíta foi purificado simplesmente por ver Srinivasa Acharya. Depois que Srinivasa Acharya terminou suas explicaçöes do Srimad Bhagavatam, principiou o sankirtan do Santo Nome e, após algum tempo, ele começou a dançar no kirtan. Depois de algum tempo, Raja Birhambir, com uma palha entre os dentes, caiu perante os pés de lótus de Srinivasa Acharya e ofereceu suas reverências prostradas num humor de grande humildade, suplicando-lhe por sua misericórdia repetidamente. Srinivasa Acharya pegou-o e abraçou-o cordialmente. Disse-lhe que brevemente, o próprio Sri Gauranga concederia Sua misericórdia a Raja Birhambir. Depois disso o rei trouxe a arca com as escrituras dos Goswamis e ofereceu-as a Srinivasa Acharya.

Srinivasa Acharya podia entender o significado da "doce misericórdia sem limites" de Sri Gaurasundara. Pode-se ver Sua vontade manifesta em tudo que acontece. Srinivasa Acharya deu suas bençäos ao rei. Notícias disso tudo logo chegaram a Sri Jiva Goswami em Vrindavana. Ouvindo notícias de tudo que transpirara, Jiva Goswami e os outros Goswamis ficaram muito felizes e acharam as atividades de Srinivasa Acharya maravilhosas.

Despedindo-se do rei, Srinivasa Acharya levou a arca de livros até Yajigram e contou a todos devotos dali o que ocorrera. Ouvindo tudo de Srinivasa, os devotos ficaram muito contentes. Na ocasiäo ele soube do falecimento de Sri Vishnupriya Thakurani em Navadwipa. Em grande infortúnio e desespero, Srinivasa Acharya desmaiou. Os devotos todos fizeram o melhor que podiam para reanimar e consolar Srinivasa, e após algum tempo voltaram-lhe os sentidos. Nesse momento chegou uma mensagem de Sri Raghunandana em Sri Khanda, convidando Srinivasa Acharya para vir até lá. Sem demora, Srinivasa partiu para Sri Khanda. Quando Narahari Sarakara Thakura, Raghunandan Thakura e todos outros associados eternos de Sri Chaitanya em Sri Khanda viram Srinivasa Acharya ficaram muito felizes. Srinivasa ofereceu seus respeitos a todos eles e trouxe as notícias sobre os Goswamis em Vrindavana.

Naquela ocasiäo, Sri Narahari Sarakara Thakura contou a Srinivasa Acharya que era desejo da mäe dele que Srinivasa casasse. Ele disse: "Sua mäe é uma grande devota. Durante muito tempo ela prestou serviço em Yajigrama. O que ela mandar você deve fazer. É desejo dela, como era de seu pai, que você case." Sem ter de ouvir a ordem de sua mäe nem mais uma vez, Srinivasa aceitou a em sua cabeça. Após ficar mais alguns dias em Sri Khanda, ele foi a Kanthak Nagara visitar a casa de Gadadhara Dasa Thakura e tomar darshan dele.

Depois de oferecer seus respeitos a Gadadhara Das Thakura, este o abraçou afetuosamente. Gadadhara Dasa queria ouvir de Srinivasa sobre todos devotos em Vrindavana, especialmente os Goswamis. Ele estava curioso para saber dele tudo sobre o bem-estar desses devotos que Srinivasa vira em sua longa viagem. Após ouvir tudo dele, Gadadhara ficou muito contente. O Acharya passou mais alguns dias com Gadadhara Das e entäo despediu-se dele. Na hora de Srinivasa partir, Gadadhara Dasa abençoou-o dizendo: "Um dia certamente saborearás o néctar do sankirtan do próprio Senhor, rodeado de Seus associados pessoais. Tens minhas bençäos para ir e casar. Que lhe traga auspiciosidade."

Aceitando as bençäos e instruçöes de Sri Gadadhara Das, Srinivasa Acharya retornou a Yajigrama. Naquela época em Yajigrama, Raghunandana Thakura acabava de chegar, para satisfaçäo de todos. Em Yajigrama vivia um devoto brahmana chamado Gopal Chakravarti. Ele tinha uma filha linda e devotada chamada Draupadi. Sri Raghunandana Thakura realizou o arranjo para que ela fosse unida a Srinivasa Acharya num sagrado matrimônio. No dia de akshaya triti do mês de Vaishakha, realizou-se o casamento. O nome anterior da esposa do Acharya era Draupadi, porém depois do casamento seu nome passou a ser Ishvari. Anteriormente Sri Gopal Chakravarti tinha tomado iniciaçäo mantrica de Srinivasa Acharya. Gopal Chakravarti tinha dois filhos chamados Shyama Dasa e Ramachandra. Eles tomaram iniciaçäo de Srinivasa Acharya também. Sri Narahari Sarakara Thakura, ao ouvir notícias sobre o casamento de Srinivas Acharya ficou muito contente.

Com o tempo, Srinivasa Acharya começou a instruir seus discípulos nas escrituras dos Goswamis. Os filhos de Dvija Haridas, Sridas e Sri Gokulananda também tomaram iniciaçäo de Srinivasa Acharya e começaram a estudar as escrituras dos Goswamis sob sua orientaçäo. Gradualmente a influência de Srinivasa Acharya começou a se espalhar. Dentro de pouco tempo, muitas almas sinceras e fiéis vieram a ele para refugiarem-se em seus pés de lótus.

Srinivasa Acharya encontra Ramachandra Kaviraja

Certo dia Srinivasa Acharya estava em Yajigrama em sua própria casa, onde muitos devotos estavam reunidos para ouví-lo palestrar sobre o Srimad-Bhagavatam. Na ocasiäo, Ramachandra Kaviraja, filho de Chiranjiva Sen (um dos associados eternos de Mahaprabhu) estava passando perto da casa de Srinivasa Acharya. Ele acabava de se casar e vinha voltando do casamento com sua noiva. De longe Srinivasa Acharya enxergou Ramachandra Kaviraja, e este também viu Srinivasa Acharya à distância. Ao se verem à distância, um profundo humor de amizade brotou dentro do coraçäo desses dois devotos eternamente perfeitos de Sri Gauranga. Depois de se verem, ficaram ansiosos por encontrarem-se. Srinivasa Acharya ouvira sobre Ramachandra Kaviraja pelas pessoas do local. E Ramachandra Kaviraja ouvira sobre Srinivassa Acharya. Dessa forma eles se encontraram e foram apresentados por algumas pessoas do local.

Sri Ramachandra e sua nova esposa vieram à casa de Srinivasa Acharya. Como o dia passou rapidamente! Passaram a noite onde estavam hospedados desde que tinham chegado a Yajigrama, na casa de um brahmana perto do lar de Srinivasa Acharya, e na manhä seguinte foram ver Srinivasa Acharya e caíram diante de seus pés oferecendo reverências prostradas. O Acharya pediu que Ramachandra Kaviraja se levantasse do chäo e o abraçou cordialmente, dizendo: "Vida após vida foste meu amigo. A providência nos reuniu novamente hoje arranjando nosso encontro." Ambos sentiram grande felicidade como resultado do encontro. Vendo que Ramachandra possuía inteligência transcendental aguda e profundamente erudita, Srinivasa ficou muito contente. Começou a fazê-lo ouvir as escrituras dos Goswamis. Após alguns dias o Acharya iniciou-o no divino mantra Radha-Krishna.

Depois de algum tempo, Srinivasa Acharya novamente partiu para Vrindavana. Junto com ele íam muitos outros devotos que também desejavam ir a Vrindavana. Seguiam o caminho que o Acharya tomara anteriormente, e depois de algum tempo andando e andando, finalmente chegaram a Gaya Dham, onde tomaram darshan dos pés de lótus da Deidade de Vishnu. Depois disso foram a Kashi. Ali Srinivasa recebeu darshan de Sri Chandrashekara e dos outros devotos de Kashi, os quais estavam todos muitos contentes por ver Srinivasa e que o abraçaram com grande afeiçäo.

Srinivasa ficou em Kashi por dois ou três dias e entäo partiu para Mathura. Ao entrar em Mathura, ele novamente se banhou no Vishrama Ghata. Depois disso, foi ao local sagrado do advento de Krishna nesse mundo e ali viu a Deidade de Adi Keshava. Logo após, ele deixou Mathura para ir a Vrindavana. Brevemente, chegou em Vrindavana. Ali, Sri Jiva Goswami já o esperava, Srinivasa foi até Sri Jiva Goswami e ofereceu-lhe suas respeitosas reverências, e Sri Jiva Goswami fê-lo levantar e entäo abraçou-o cordialmente. Indagou sobre notícias dos Gaudiya Vaisnavas de Bengala, que näo via há muito tempo. Justo nesse momento, também chegava a Vrindavana vindo de Puri, Shyamananda Prabhu. Ele ofereceu seus respeitos a Sri Jiva, que o abraçou e pediu notícias dos devotos de Puri. Depois disso, Srinivasa e Shyamananda foram reunidos. Ofereceram-se reverências e se abraçaram e ficaram muito contentes por se reverem. Entäo chegou a notícia que Dvija Haridasa acabava de falecer e eles ficaram muito infelizes. Ficaram em Vrindavana com Jiva Goswami, que lhes ensinou diversos sidhantas, conclusöes devocionais, a partir de um livro que acabava de completar, o Sat Sandarbha: Seis Tratados. Nessa época Jiva Goswami também começara a trabalhar num livro chamado Gopal Champu. Ele leu a invocaçäo ou mangalacaranam desse livro para Srinivasa e Shyamananda.

Srinivasa Acharya ficou em Vrindavana com Sri Jiva Goswami associando-se com os outros Goswamis durante alguns meses, em grande felicidade. Depois de algum tempo, ele mandou um recado a Gauda Desh, para que Ramchandra Kaviraj viesse até Vrindavana. Alguns devotos bengaleses que estavam em Vrindavana levaram a mensagem a Ramchandra. Quando este chegou, apresentou-se a Sri Jiva Goswami. Ramchandra ofereceu plenas reverências a Sri Jiva, que o colocou de pé e abraçou. Jiva Goswami ordenou que visitasse as deidades importantes em Vrindavana, a começar por Radharamana, Govinda, e Gopinatha e que tomasse darshan dos pés de lótus dos Goswamis. Junto com Shyamananda e Srinivasa, Ramchandra fez o que fora ordenado, e os três tomaram darshan das deidades e santos de Vrindavana. Vendo a extrema humildade devocional e outras boas qualidades de Ramchandra Kaviraja, os Goswamis de Vrindavan ficaram muito satisfeitos.

Srimad Jiva Goswami entäo ordenou que Ramchandra fosse tomar darshan das diferentes florestas de Vrindavana. Depois que vira tudo, foi ao Radha-kunda e tomou darshan dos pés de lótus de Raghunath Das Goswami e de Krishna Das Kaviraja Goswami. Depois, por ordem de Sri Jiva Goswami, Srinivasa Acharya e Shyamananda Prabhu partiram para Gaudadesh.

Gradualmente chegaram a Vanavishnupura. Quando ali chegaram, o Rei Birhambir ficou täo feliz por ver Srinivasa Acharya que começou a dançar. Depois disso o rei cuidadosamente adorou Srinivasa Acharya conforme as regras de adoraçäo ao guru, e entäo ofereceu-lhe saborosos alimentos, após o que organizou um grande festival no palácio real. Vendo a bhakti do rei, Shyamananda ficou maravilhado. Nessa época, Srinivasa Acharya iniciou o rei no Radha-Krishna mantra. O nome do rei tornou-se Sri Chaitanya Dasa. O filho do rei, Darhihambir, também tomou iniciaçäo e seu nome passou a ser Sri Gopal Dasa. Pela graça de Srinivasa Acharya, o rei providenciou a instalaçäo de uma deidade, Sri Kalachand. Srinivasa Acharya, com sua própria mäo, instalou as deidades, realizando a cerimônia abhishek e puja bem como todos outros rituais apropriados. Após permanecer ali por algum tempo, Sri Shyamananda Prabhu partiu para Puri. Srinivasa Acharya foi-se para Yajigrama.

Naquela época, o rei de Shikhareshvara, Sri Narinarayana Dev convidou Srinivasa Acharya à sua própria casa. Os associados eternos de Srinivasa Acharya organizaram uma recepçäo triunfal para Srinivasa Acharya ali. O Acharya ficou lá alguns dias e falou Bhagavata-katha que fluía docemente como a corrente do Ganges. Muitas pessoas ali alcançaram a misericórdia de Srinivasa Acharya.

Após passar alguns dias na terra de Shikheshvara, Srinivasa chegou em Sri Khanda, e ali ouviu que no dia de Krishna Ekadasi do mês de Agrahayana, Sri Narahari Sarakara Thakura entrou nos passatempos imanifestos do Senhor, deixando este mundo temporário. Ao ouvir sobre isso, ele caiu no chäo, inconsciente. Em grande lamentaçäo, chorou um rio de lágrimas. Na dor da separaçäo, ele näo conseguia se conter. Sri Raghunandana Thakura sentiu-se perdido em meio ao sofrimento. Ao ver Srinivasa, ficou um pouco apaziguado. Durante alguns dias Srinivasa ficou em Sri Khanda, antes de continuar para Kanthak Nagara. Lá chegando, ouviu que no mês de Kartika, Gadadhara Das falecera. Varado pela agonia da separaçäo, Srinivasa sentia que sua vida tinha se esvaído. Em grande sofrimento, de algum modo refez-se e retornou a Yajigrama. Ali, quando voltou a sua própria casa, convidou todos devotos para um grande festival.

Algum tempo depois, no Krishna Ekadasi do mês de Magh, realizaram um festival em honra ao desaparecimento de Dvija Haridasa em Kanchangari Nagara. Para participar do festival, Srinivasa foi a Kanchangari Nagara. Nesse festival havia uma grande multidäo. Foi no dia do festival, que os filhos de Dvija Haridas (Sri Dasa e Sri Gokulananda) tomaram iniciaçäo de Srinivasa Acharya. Depois de ficar por ali alguns dias, Srinivasa partiu a caminho de Kheturi Gram. Ali, no dia de Phalguna Purnima, dia do advento de Mahaprabhu, iria se realizar um grande festival. O festival seria organizado pelo Rei Santosh Duta. Ele era filho do irmäo de Narotam, bem como discípulo de Narotam. Para esse festival, a própria Jahnava Devi, esposa do Senhor Nityananda, viera. Junto com ela vieram Sri Nidhi, Sri Pati, Sri Krishna Mishra, Sri Gokula, Sri Raghunandana, e muitos outros associados eternos de Mahaprabhu.

Srinivasa Acharya realizou a cerimônia de abhisheka e o puja para a instalaçäo da deidade. Quando veio o dia da lua cheia do mês de Phalguna, começaram o grande festival de Hari Kirtana cantando o Santo Nome o dia inteiro. Cantaram dia e noite, e no meio desse grande kirtana Chaitanya Mahaprabhu junto com Seus associados eternos apareceram diante dos devotos e revelaram-se à visäo de todos. No dia seguinte ao festival, um houve um grande banquete.

O nome das deidades era Sri Gauranga, Sri Valabhikanta, Sri Vrajamohana, Sri Krishna, Sri Radha Kanta, Sri Radharaman. A instalaçäo dessas seis deidades foi um grande festival. O mundo nunca vira um festival Vaisnava täo grandioso. Na conclusäo do festival, Raja Santosh Datta distribuiu belos tecidos e ornamentos para todos devotos. Os devotos por sua vez, cumularam o rei de bençäos auspiciosas.

Depois do festival, Srinivasa Acharya e Shyamananda Prabhu voltaram a Yajigrama. Muitos Vaisnavas foram junto com eles, e quando chegaram à casa de Srinivasa começaram um festival ali. Depois de alguns dias, Narotama Thakura chegou por ali. Depois que os três passaram algum tempo juntos em Yajigrama trocando realizaçöes, Shyamananda Prabhu dirigiu-se a Utkaladesh. Srinivas, Narotama, e Ramchandra Kaviraja partiram para Navadwipa. Quando chegaram à casa de Sri Gauranga em Mayapura/Navadwipa, encontraram o idoso servo do Senhor,Ishan Thakura, e prestaram suas reverências a seus pés de lótus, prostrando-se como varas. Todos apresentaram-se a Ishan e quando este descobriu quem eram, abraçou todos no êxtase de prema.

Nessa época Ishan Thakura era o único a permanecer na casa de Sriman Mahaprabhu. No dia seguinte, Ishan levou-os em parikrama, e juntos os três viram todos locais sagrados de Navadwipa. Conforme eram levados de local em local, ficaram muito felizes ao ouvir de Ishan os diferentes passatempos do Senhor realizados em Navadwipa. Depois que ele lhes mostrara os locais sagrados, novamente ofereceram-lhe seus respeitos e, pedindo permissäo para partir, dirigiram-se a Sri Khanda. Logo depois disso, Sri Ishan Thakura desapareceu desse mundo e entrou nos passatempos imanifestos do Senhor. Dessa maneira, todos associados eternos do Senhor em Navadwipa e Mayapura gradualmente desapareceram desta terra e entraram na lila imanifesta do Senhor.

Certo dia, Raghunandana Thakura queria que Srinivasa viesse para uma visita, portanto enviou um devoto levando essa mensagem a Yajigrama. Srinivasa Acharya .....



(ESTE PEDAÇO ESTA FALTANDO - É PAGINA 202. A PRóXIMA COMEÇA COM:

Chakravarti with folded hands stood before him. Understanding his desire, etc.)


Chakravarti de mäos postas estava de pé diante dele. Entendendo seu desejo, Srinivasa Acharya sorriu ligeiramente. Ele ofereceu um assento a Raghava Chakravarti e indagou sobre a razäo da visita deste. Após permanecer silencioso durante algum tempo, o brahmana finalmente falou, dizendo: "Vim aqui submeter uma sugestäo a seus pés de lótus, porém näo consigo encontrar a audácia para expressá-la, por respeito a Vossa Reverência. Se puder assegurar-me que nada tenho a temer ao falar, direi por que vim." O Acharya disse: "Näo há nada a temer. Por favor diga o que pensa." Entäo o brahmana ofereceu a Srinivasa Acharya a mäo de sua filha em casamento. Ao ouvir isto, o Acharya sorriu ligeiramente. Ao ouvirem tudo isso, os devotos ali presentes ficaram muito contentes. Finalmente Srinivasa Acharya concordou em casar-se com a filha de Raghava Chakravarti.

Com grande pompa, Maharaja Birhambir fez os arranjos para o casamento de Srinivasa Acharya. Quando os astros estavam auspiciosos, Sri Raghava Chakravarti, tendo ornado sua filha com belas vestimentas e ornamentos, veio até Srinivasa Acharya e ofereceu-lhe a mäo de sua filha. Após casar-se com Srimati Gauranga Priya, Srinivasa Acharya retornou com sua nova esposa a Yajigrama. Exatamente nessa época a divina energia de Nityananda - Sri Jahnava Devi - justamente chegava à casa de Srinivasa Acharya, tendo retornado de uma peregrinaçäo a Vrindavana. Ao vê-la, a felicidade do Acharya näo conhecia limites. Com grande respeito ele tomou a poeira de seus pés de lótus, ofereceu-lhe o assento de honra e, após adorá-la, pediu que sua nova esposa, Gauranga Priya, oferecesse seus respeitos e oraçöes aos pés de lótus de Jahnava Mata.

Quando Sri Jahnava Mata, que é conhecida como Bhakta-Svarupini - a personificaçäo de bhakti - viu o bom caráter e beleza da jovem esposa, abraçou-a com grande afeiçäo. Com grande felicidade, permaneceu na casa de Srinivasa Acharya durante alguns dias, após o que novamente retornou a seu vilarejo, Khorodoha Gram. Em Yajigram, Srinivasa Acharya aceitou muitos discípulos. Ele frequentemente discutia os shastras e realizava sankirtan até que sua voz ficava rouca e que näo conseguia mais falar. Em Yajigrama, Srinivasa experimentou grande êxtase ao discutir as escrituras dos Goswamis, ao estudá-las e ensiná-las a outrem. Dessa maneira ele passava seus dias em grande felicidade. Vendo a opulência devocional do Acharya e capacidade expansiva de pregaçäo, todos ficaram maravilhados. Por sua influência muitos ateístas importantes vieram e se renderam a seus pés de lótus.

Srinivasa Acharya, Sri Narotama e Sri Ramchandra Kaviraj possuiam um só coraçäo e mente. Srila Narotama Thakura escreveu doya kore sri acharya, prabhu srinivasa - ramchandra mage narotamo das: "ó Srinivasa, seja misericordioso comigo! Narotama ora pela associaçäo de Ramchandra Kaviraja."

Srinivasa Acharya tinha três filhos e três filhas. Os nomes de suas filhas eram Krishna Priya, Hemalata, e Phulapi Thakurani. Seus filhos chamavam-se Vrindavan Valabha, Radha Krishna, e Sri Gita Govinda. O filho de Sri Gita Govinda chamava-se Krishna Prasada. Seu filho chamava-se Jagadananda. Jagadananda Thakura possuía duas esposas. O filho de sua primeira esposa era Yadavendra e com a segunda esposa teve Radha Mohana, Bhuvana Mohana, Gaur Mohan, Shyam Mohan e Madan Mohan. Os descendentes de Bhuvana Mohan atualmente vivem em Murshidavad em Manikyahar Gram.

Sri Isvara Puri


Srimad Krishnadas Kaviraj Goswami escreve: "Todas as glórias a Madhavendra Puri, o repositório de toda krishna-prema! Ele é uma árvore-dos-desejos de bhakti, e foi nele que a semente de bhakti primeiro frutificou. A semente de krishna-prema a seguir frutificou em Sri Isvara Puri, e entäo o próprio jardineiro, Chaitanya Mahaprabhu, tornou-se o tronco principal da árvore de bhakti." Srila Bhaktisidhanta Saraswati comenta sobre esta seçäo do Chaitanya Charitamrita (CC Adi 9.10): "Sri Isvara Puri era morador de Kumarahatta (nesse local agora existe uma estaçäo ferroviária conhecida como Kamarhatty. Perto dali também existe outra estaçäo chamada Halisahara, que pertence à ferrovia oriental que vem da seçäo oriental de Calcutá). Isvara Puri apareceu numa família de brahmanas e era o discípulo mais querido de Sri Madhavendra Puri."

A natureza do serviço devocional pessoal de Sri Isvara Puri aos pés de lótus de seu guru, Sri Madhavendra Puri, é mencionada em outra parte do Chaitanya Charitamrita por Kaviraj Goswami como segue: "No último estágio de sua vida, Sri Madhavendra Puri tornou-se inválido e ficou completamente incapaz de se mover, e Isvara Puri se ocupava täo completamente em seu serviço que limpava pessoalmente suas fezes e urina. Sempre cantando o Hare Krishna maha-mantra e lembrando Sri Madhavendra Puri sobre os passatempos do Senhor Krishna durante o último estágio de sua vida, Isvara Puri prestou o melhor serviço dentre seus discípulos. Assim Madhavendra Puri, estando muito satisfeito com ele, abençoou-o, dizendo: "que possas ter krishna-prema." Dessa maneira, Isvara Puri, através da graça de seu mestre espiritual, Sri Madhavendra Puri, tornou-se um grande devoto no oceano de amor por Deus."

Srila Prabhupada Bhaktivedanta frisa em seu comentário sobre este verso: "É pela misericórdia do mestre espiritual que nos tornamos perfeitos, conforme vívidamente exemplificado aqui. Um Vaisnava sempre é protegido pela Suprema Personalidade de Deus, porém se aparentar invalidez, isto proporciona a seus discípulos uma chance para serví-lo. Isvara Puri agradou seu mestre espiritual pelo serviço, e pelas bençäos de seu mestre espiritual ele se tornou uma personalidade täo grande que Sri Chaitanya Mahaprabhu aceitou-o como mestre espiritual."

Antes de iniciar Sri Chaitanya, Isvara Puri ficou na casa de Gopinath Acharya em Navadwip-dham. Ali viveu durante alguns meses. Nessa época conheceu Sri Chaitanya, quando este ainda era Nimai Pandit, e solicitou que o ajudasse com seu livro, Krishna-lilamrita. O Senhor ficou altamente satisfeito com a devoçäo de Isvara Puri e elogiou muito o livro, dizendo que estava impecável. Contudo, ao ser pressionado, Ele fez algumas correçöes com Suas próprias mäos de lótus. A seguir, uma sinopse do relato de Vrindavana Das Thakur sobre Isvara Puri.

Quando mäe Saci viu que Sri Chaitanya estava alegremente ocupado em Seus estudos, o próprio êxtase dela aumentou. Nessa época, Sri Isvara Puri veio para Navadwipa disfarçado. O Chaitanya Bhagavata registra que Isvara Puri estava tomado pelo êxtase de krishna-rasa. E no entanto, como ele era muito querido por Krishna, ele também era muito humilde e näo queria atrair qualquer atençäo sobre si mesmo como grande devoto. A fim de que ninguém soubesse quem era, ocultou sua real identidade e foi ao templo de Advaita.

Ao chegar lá, descobriu que Advaita estava ocupado servindo o Senhor no templo, portanto entrou e se sentou muito cuidadosa e timidamente. Porém o poder de um grande Vaisnava näo se esconde täo facilmente de outro grande Vaisnava. Repetidas vezes, Advaita Acharya afastava o olhar de seus deveres, na direçäo de Isvara Puri. Finalmente, perguntou-lhe: "ó Pai! Quem sois?"

Com grande humildade, Isvara se apresentou, dizendo: "Sou um sudra da classe mais baixa." Dessa forma, a jóia dos sábios eruditos e o melhor dos renunciados, Isvara Puri, mostrou como a humildade é o verdadeiro ornamento de um Vaisnava.

Imediatamente ao vê-lo, Mukunda Data reconheceu que Isvara Puri era um sanyasi Vaisnava. Na ocasiäo, Mukunda Data começou a realizar krishna-lila kirtan mui docemente. Vrindavana Das pergunta: quem consegue se manter insensível quando Mukunda Data realiza seu doce kirtana? Ao ouvir as cançöes profundamente tocantes de Mukunda Data, Sri Isvara Puri perdeu sua compostura e desmaiou no chäo, num transe de profundo êxtase. Lágrimas de êxtase jorravam de seus olhos. Os devotos reunidos tornaram-se emudecidos ao ver tal demonstraçäo de emoçäo transcendental. Quando recuperaram a capacidade de falar, todos repararam que nenhum deles jamais vira um Vaisnava como esse. Sri Advaita Acharya também começou a experimentar sintomas graves de emoçäo transcendental. Depois disso, todos concluíram que seu visitante näo era nada menos que o mais querido discípulo de Madhavendra Puri - Sri Isvara Puri. Com isso, todos começaram a cantar alegremente o Santo Nome de Krishna, dizendo: "Hari! Hari!" repetidas vezes.

Sri Isvara Puri permaneceu em Navadwipa durante um tempo. Certo dia, a trilha perto de onde ele ficava foi abençoada pelos divinos passos de Sri Gaurasundara. Mahaprabhu estava retornando à casa depois da escola. Ao ver Sri Chaitanya Mahaprabhu, Isvara Puri ficou maravilhado com seu corpo perfeito e disposiçäo supremamente grave. Ele queria de alguma maneira fazer contato com o Senhor. Finalmente, ele chamou: "ó melhor dos brahmanas! Qual é Seu nome? Onde fica Sua casa? E que livro estás lendo?"

Sri Chaitanya Mahaprabhu com grande humildade ofereceu Suas humildes reverências a Sri Isvara Puri. Os discípulos de Mahaprabhu disseram: "O nome dele é Nimai Pandit." Isvara Puri disse: "Entäo és O Nimai Pandit!" A alegria de Isvara Puri näo tinha limites. Mahaprabhu com grande humildade curvou Sua cabeça e disse: "Sripada, tende misericórdia para Comigo e faça o favor de agraciar Minha casa com tua companhia. Nessa mesma tarde prepararemos prasada para teu prazer. Por favor aceite." Com estas doces e humildes palavras, Mahaprabhu estendeu o convite a Isvara Puri. Aceitando o convite, Isvara Puri foi à casa de Mahaprabhu.

Sri Chaitanya Mahaprabhu lavou os pés de lótus de Isvara Puri com suas próprias mäos. Sri Saci Devi rapidamente preparou vários tipos de preparaçöes e as ofereceu para a Deidade. Depois de oferecidas, Mahaprabhu aceitou-as.

Mais tarde, ambos entraram no templo de Vishnu e discutiram Krishna juntos, por muito tempo. E gradualmente krishna-prema surgiu em seus coraçöes e inundou-os com o êxtase de Deus.

Dessa forma, durante um mês, Sri Isvara Puri ficou na casa de Sri Gopinatha Acharya. Sri Chaitanya Mahaprabhu constantemente convidava Isvara Puri a visitá-Lo. E de tempos em tempos Isvara Puri convidava Mahaprabhu a visitá-lo.

Nessa época, Sri Gadadhara era um menino novinho. Sri Isvara Puri era muito afetuoso com ele. Costumava ler o livro que escrevera, Sri Krishna-lilamrita, para Gadadhara. Todo dia por volta do alvorecer, Mahaprabhu vinha e oferecia Suas reverências a Sri Isvara Puri. Certo dia, Isvara Puri falou a Mahaprabhu: "És o maior dos pandits; estou escrevendo um livro sobre os passatempos de Krishna. Precisas ajudar-me apontando quaisquer defeitos que encontrar nesse trabalho. Isso me dará grande prazer. Sentado aos santos pés de Sri Isvara Puri e ouvindo estas palavras, Sri Chaitanya Mahaprabhu sorriu e disse: "As palavras dos devotos de Krishna säo täo boas quanto o próprio Krishna. Estäo na mesma categoria que Ele, säo de Seu "alfabeto", näo de algum alfabeto material. Tais palavras näo säo mundanas. Quem achar defeito em Krishna ou Seus devotos, é um grande pecador. O que um bhakta escreve näo é mera poesia; é completamente diferente - é algo muito querido para Krishna, e portanto é perfeito."

"As oraçöes de amor por Krishna feitas por Seu devoto näo tem nada a ver com as regras de gramática e näo dependem delas.
Krishna só está interessado no amor em tais oraçöes. De qualquer maneira säo queridas por Krishna, sejam construídas corretamente conforme as regras da gramática ou näo. Quem procura defeitos nas palavras de um devoto nunca agradará a Krishna."

Ao ouvir as palavras de Chaitanya Mahaprabhu, Isvara Puri sentiu-se como se seus sentidos tivessem sido encharcados em néctar. Isvara Puri conseguia compreender que Sri Chaitanya Mahaprabhu era a Suprema Personalidade de Deus, a Pessoa Absoluta. Alguns dias depois, Isvara Puri deixou Navadwip com alguns devotos para continuar visitando os sagrados locais de peregrinaçäo.

Dessa forma, os passatempos de estudante de Sri Gaurasundara chegaram ao fim e o Senhor desejava manifestar Sua divindade. Queria revelar-Se e distribuir o néctar do Santo Nome de Krishna, e inundar o mundo de krishna-prema, assim salvando-o. Porém primeiro, Ele foi a Gaya a fim de oferecer oblaçöes a Seus antepassados. Nessa época, Sri Isvara Puri estava em Gaya.

Após ficar em Gaya algum tempo, depois que Mahaprabhu terminara Suas oferendas a Seus antepassados, Ele foi completar Sua adoraçäo dos pés de lótus de Vishnu. Quando recebeu o darshan dos sagrados pés do Senhor, e ouviu as glórias do Senhor, Ele começou a ser inundado no êxtase de amor por Deus, e caiu ao solo maravilhado e cheio de deleite. Por arranjo divino, foi justo nessa hora que chegou Isvara Puri. Ao ver Sri Gaurasundara, emudeceu. Chandrashekaracharya, que estava próximo, confirmou tudo isto. Algum tempo depois, Sri Chaitanya Mahaprabhu retornou à consciência externa e viu Isvara Puri nas proximidades. Imediatamente levantou-Se e entäo ofereceu Suas humildes reverências aos pés de lótus de Sri Isvara Puri.

Naquele momento, Sri Chaitanya Mahaprabhu e Sri Isvara Puri abraçaram-se cordialmente. Logo, ambos estavam se afogando num oceano de lágrimas que jorravam incessantemente de seus olhos de lótus. Na ocasiäo, Mahaprabhu disse: "Agora Minha visita a Gaya realmente frutificou, pois por ter vindo aqui obtive a chance de ver seus pés de lótus. Viajando a um local sagrado e oferecendo pinda pode-se salvar os antepassados - isto é, a pessoa que oferece pinda pode salvar somente seus antepassados. Porém quem te vê, automaticamente salva milhöes de antepassados, e eles näo só ficaräo livres de seus pecados com certeza, mas todos também alcançaräo eterna liberaçäo do cativeiro material. Assim, essa peregrinaçäo que empreendi é sem paralelo, por sua santidade ter tornado tudo perfeitamente auspicioso."

Dessa forma, Sri Chaitanya Mahaprabhu em grande humildade falou para Isvara Puri: "Todas Minhas visitas a locais sagrados se tornaram perfeitas porque te vi. Uma pessoa santa é um verdadeiro "tirtha" ou local sagrado, já que santifica os locais santos por sua própria presença. Portanto és a realizaçäo suprema de todos locais sagrados. Todos locais santos oram para obter a poeira de teus pés de lótus. ó Isvara Puri, da mesma forma, estou rezando para obter a poeira de teus pés de lótus, que Me tornará livre do oceano de repetidos nascimentos e mortes, e que Me permitirá beber o néctar da rasa divina aos pés de lótus de Sri Krishna. Porque só tu podes libertar-Me do oceano de repetidos nascimentos e mortes, ofereço Esse corpo para fazeres com Ele o que desejares. Só tu podes fazer-Me beber o néctar da divina rasa aos pés de lótus de Krishna, e é Meu desejo que Me concedas essa dádiva."

Ao ouvir isto de Sri Chaitanya Mahaprabhu, Sri Isvara Puri falou o seguinte: "Ouça Pandit: ao ver Tua erudiçäo e caráter, consigo compreender que és a própria Divindade, que descendeu entre os homens. Nesse mesmo dia de hoje, tive um lindo sonho. Em Meu sonho havia muita gente, e suas mäos estavam cheias de frutas. ó Pandit! Para falar honestamente, ao vê-Lo, sinto-me cheio de um sentimento inusitado de êxtase transcendental que ultrapassa a alegria comum. De fato, depois de Te ver a primeira vez em Navadwipa-dhama, desde aquela época, eu näo queria pensar em mais nada a näo ser em Ti. Estou falando a verdade! Ao Te ver estou täo contente como se eu fosse o próprio Krishna!"

Ao ouvir isso, Mahaprabhu humildemente baixou a cabeça em respeito e sorrindo, disse: "Sou supremamente afortunado!"

Alguns dias depois, Sri Chaitanya Mahaprabhu, num humor de grande humildade, procurou Isvara Puri e disse: "Sua santidade, por favor demonstre misericórdia para Comigo e conceda-Me iniciaçäo no Gayatri mantram como seu discípulo. Por falta do Gayatri mantra Minha mente está muito agitada."

Sri Isvara Puri, ao ouvir estas palavras de Sri Chaitanya Mahaprabhu, ficou muito contente e falou o seguinte: "Quer eu Te dê minhas palavras pela fala ou num mantra, é minha vida que desejo entregar-Lhe; desejo dar-Lhe tudo que tenho."

Depois disso, Sri Isvara Puri iniciou Sri Gaurasundara no divino mantra. Certo dia, Sri Isvara Puri foi à casa de Sri Chaitanya Mahaprabhu. Ao vê-lo, Sri Chaitanya Mahaprabhu ficou extático. Ofereceu suas reverências e todos respeitos e saudaçöes adequadas, e implorou que ficasse para o almoço. Isvara Puri disse: "Eu me consideraria extremamente afortunado por aceitar um arroz de Suas mäos de lótus." Mahaprabhu cozinhou com Suas próprias mäos e com grande esmero alimentou Sri Isvara Puri. Depois do almoço, o Senhor passou polpa de sândalo nos membros de Sri Isvara Puri e ofereceu-lhe uma bela guirlanda de flores.

Desta forma, a fim de familiarizar-nos com a maneira como devemos adorar o guru, Sri Chaitanya Mahaprabhu nos instruiu através de Seu exemplo pessoal como servir ao guru-parampara. Quem näo compreende como honrar uma pessoa santa nunca poderá alcançar krishna-prema-bhakti. Serviço aos pés de lótus do guru é o portal para krishna-bhakti.

Quando Sri Chaitanya Mahaprabhu estava retornando de Gaya a Navadwipa, passou por Kumarahata, o divino local de nascimento de Sri Isvara Puri. Ao chegar lá, Ele se encheu de amor divino e Sua voz ficou embargada de êxtase. Encharcou a terra com Suas lágrimas de amor divino que saíam de Seus olhos de lótus. Antes de partir de Kumarahata, foi até o local de nascimento de Isvara Puri e pegou um pouco de poeira de seu local natalício. Ao partir para Navadwipa, anunciou: "Esta poeira é Minha vida e Minh'alma." Depois disso, Sri Chaitanya Mahaprabhu tomou sanyasa e foi a Jaganatha Puri por ordem de Sua mäe. Na ocasiäo, Sri Isvara Puri terminara seu papel nos passatempos manifestos do Senhor. No momento em que passou para os passatempos imanifestos do Senhor, ele ordenou que seus dois discípulos, Govinda e Kashishvara Pandit vivessem perto de Mahaprabhu e prestassem serviço a Ele.

Srila Bhaktisidhanta escreveu: "O melhor dos sanyasis, Madhavendra Puri, tinha como seus principais discípulos Isvara Puri, Nityananda e o grande Advaita. A fim de honrar Sri Isvara Puri, Sri Chaitanya Mahaprabhu, o guru do mundo inteiro, aceitou-o como Seu mestre espiritual.

Sri Shyamananda Prabhu

"Simplesmente por aceitar que os associados de Sri Chaitanya Mahaprabhu säo eternamente perfeitos, podemos alcançar o serviço a Krishna em Vrindavana."
Narottama Dasa Thakura

Sri Shyamananda, Srinivasa e Sri Narottama Dasa Thakura säo todos eternos associados de Sri Gaurasundara. Para o propósito de pregaçäo da sagrada mensagem de Sri Chaitanya pelo mundo todo, eles apareceram nesta Terra.

Sri Shyamananda Prabhu nasceu em Utkala, num local chamado Dharenda Bhadura Pura. Seu pai chamava-se Sri Krishna Mandal. Sua mäe era Sri Durika. Sri Krishna Mandal, que era da dinastia dos Seis Gopas, havia gerado muitos filhos e filhas que faleceram antes que esse filho nascesse. Devido ao grande infortúnio que se abatera sobre sua família, Sri Krishna Mandal chamou o filho de Dukhi. Todo mundo dizia que o menino se tornaria uma grande personalidade, um Mahapurusha. Num momento auspicioso no dia de lua-cheia do mês de Caitra, ele apareceu nesse mundo pela misericórdia do Senhor Jaganatha. Porque adviera para pregar as glórias de Jaganatha, o próprio Senhor o protegia enquanto ele crescia. O menino era täo belo que era como o próprio cupido; todos olhos se fixavam nele.

Gradualmente, chegou a hora de fazer a "cerimônia de comer gräos" (ocasiäo em que a criança come pela primeira vez alimento feito de gräos), e logo depois disso ele começou a frequentar a escola. Vendo a mente admirável que a criança possuía, os estudiosos ficaram admirados. Em curto espaço de tempo, o menino aprendera gramática sânscrita, poesia e retórica. E logo depois disso ele começou a estudar seriamente as escrituras. Ao ouvir as glórias de Sri Chaitanya e Nityananda das bocas de devotos locais, o menino desenvolveu um poderoso desejo de se abrigar a Seus pés de lótus. Seu pai, Sri Krishna Mandala, era um grande devoto de Krishna. Vendo seu filho sempre absorto em pensamentos de Gaura-Nityananda, disse-lhe para tomar iniciaçäo no mantra.

O menino disse: "Hriday Chaitanya Prabhu é meu guru, que vive em Ambika Kalna. O guru dele é Gauridas Pandit. Esses dois irmäos, Sri Gaura e Nityananda sempre residem em seu lar. Se ordenares, irei até ele e me tornarei seu discípulo."

Sri Krishna Mandal disse: "Meu filho! Isso é muito longe! Como vai chegar lá?"

Dukhi disse: "Pai, muitas pessoas daqui brevemente iräo a Gauda-desh para se banhar no Ganges. Quando forem, irei com elas."

Durante bastante tempo seu pai pensou nisso, e finalmente deu sua permissäo. Depois de receber as bençäos de seus pais, ele começou sua viagem para Gaudadesh. Gradualmente, chegou a Navadwip e Shantipur, e finalmente alcançou Ambika Kalna. Ao chegar a Ambika Kalna, começou a perguntar às pessoas locais onde ficava a casa de Gauridas Pandit. Estava prestando reverências do lado de fora do templo de Sriman Mahaprabhu na casa de Gauridas Pandit, quando encontrou Hridaya Chaitanya Prabhu. Hridaya Chaitanya, ao ver o menino, disse: "Quem é você?"

Dukhi disse: "Quero prestar serviço a seus santos pés. Vim de muito longe - de Dharenda Vahadur Pura. Nasci na dinastia dos Seis Gopas. Meu pai é Krishna Mandal, e meu nome é Dukhi."

Hridaya Chaitanya ficou contente com as doces palavras desse jovem menino. Disse-lhe: "De agora em diante seu nome será Krishna Das."

A partir daquele dia, Sri Krishna Das servia seu guru assiduamente. Sri Hridaya Chaitanya esperou por um dia auspicioso e logo iniciou-o no mantram. Krishna Das logo ficou fixo em seu serviço. Vendo o serviço determinado de Krishna Das, sua bhakti e sua profunda inteligência e entendimento, Hridaya Chaitanya ordenou que fosse a Vrindavana para procurar Jiva Goswami. Mandou que estudasse as escrituras dos Goswamis e seus associados sob a guia de Jiva Goswami.

Sri Krishnadasa curvou sua cabeça e aceitou a ordem de seu guru para rumar para Vrindavana, e num dia auspicioso, principiou sua jornada. Na ocasiäo, Sri Hridaya Chaitanya Prabhu enviou muitas mensagens através de Krishna Dasa, para serem levadas aos residentes de Vrindavana. Pediu-lhe que comunicasse seus dandavats e respeitos aos pés de lótus dos seis Goswamis. Dukhi Krishna Das primeiro foi a Navadwip Dhama. Ali ele indagou dos habitantes locais onde encontraria a casa de Jaganatha Mishra, e se poderia entrar naquela casa. Chegando à morada de Sri Gauranga, encontrou Ishan Thakura e ofereceu plenas reverências e respeitosas oraçöes a ele. Ishan estava muito velho. Perguntou a Krishnadas: "Quem é você?". Krishnadas explicou-lhe. Ouvindo a história, Ishan concedeu suas bençäos a Krishnadas. Depois de passar alguns dias em Navadwip, Krishnadas voltou sua doce face para Vrindavana e continuou sua viagem.

No caminho ele passou por Gayadham a fim de tomar darshan dos pés de lótus da Deidade de Vishnu ali, onde Sri Chaitanya Mahaprabhu tomara iniciaçäo de Ishvara Puri. Lembrando-se de como Ishvara Puri dera o mantra ao Senhor, ele foi inundado pelo êxtase. Depois disso, dirigiu-se a Benares, Kashidhama.

Lá, tomou darshan dos santos pés de Tapana Mishra, Chandrasekhara, e muitos outros devotos, oferecendo oraçöes e reverências a todos eles. Todos concederam inumeráveis bençäos a Krishnadasa, e ele continuou seu caminho para Mathura. Depois de muito tempo, finalmente entrou em Mathura. Ali, banhou-se em Vishrama-ghata, tomou darshan da Deidade Adikeshava e, ao visitar o local onde Sri Krishna apareceu nesse mundo, ficou soluçando de prema. Logo após, dirigiu-se a Vrindavana.

Depois de descobrir a localizaçäo exata do bhajan-kutir de Jiva Goswami pelos habitantes locais, procurou Jiva Goswami. Chegando a seu bhajan-kutir, ofereceu seus dandavats e respeitos a Jiva Goswami. Jiva Goswami perguntou quem ele era, e Krishnadas contou tudo. Explicou como era discípulo de Hridaya Chaitanya, e como este o enviara para Jiva Goswami para ser instruído nas escrituras. Jiva Goswami fora informado anteriormente por Hridaya Chaitanya: "Tenho um discípulo chamado Dukhi Krishna Dasa. Estou oferecendo ele a você. Ensina-o bem a consciência de Krishna. Quando sua mente estiver fixa em consciência de Krishna, depois de ter estudado as escrituras cuidadosamente sob tutela por algum tempo, pode mandá-lo de volta para mim."

Ao saber que Dukhi Krishnadasa fora enviado por Hridaya Chaitanya para trabalhar sob sua orientaçäo, Sri Jiva Goswami ficou muito contente. Krishnadasa estava sob sua proteçäo. Sri Krishnadasa cuidadosamente serviu Jiva Goswami e estudou as escrituras dos Goswamis muito seriamente. Naquela época Srinivasa Acharya e Narottama Das Thakura também vieram estudar as escrituras dos Goswamis sob a autoridade de Jiva Goswami. Krishnadas se reunia com eles e estudavam as escrituras juntos.

Krishnadas orava por serviço que o aproximasse mais de Jiva Goswami. Quando Jiva Goswami reparou nisso, disse com alegria: "Todo dia deves pegar uma água do Kanana-Kunja." A partir daquele dia, Dukhi Krishna Das com muito afeto e entusiasmo ia àquele Kunja para encher o pote d'água de Jiva Goswami. A oportunidade de servir Jiva Goswami dessa forma, trouxe novo significado à vida de Krishnadas. Por pegar água todo dia para Jiva Goswami, Krishnadas sentiu uma transformaçäo em si mesmo. Ele ficava cheio de alegria, e seus olhos se enchiam de lágrimas de êxtase. Sempre que ouvia o nome de Radha e Govinda cantado em voz alta no kirtana ou quando se lembrava de seus passatempos divinos, ele ficava mudo e maravilhado. De tempos em tempos ele reparava que uma moça que parecia ser uma linda princesa pegava água do mesmo Kunja e a levava sobre a cabeça. Brahma e Shiva se encantariam com sua beleza. Dessa forma, Dukhi Krishnadasa continuou seu serviço de visitar o Kunja e pegar água para Jiva Goswami. Seu serviço certamente agradou ao príncipe e princesa de Vraja, Sri Sri Radha e Krishna, tanto assim que desejavam se revelar a Krishnadas. Certo dia, Krishnadas estava realizando seu dever regular de encher o pote d'água no Kunja. Estava plenamente absorto no samadhi de krishna-prema. Naquele momento ele viu dentro d'água sob seu pote, uma bela pulseira brilhante, uma tornozeleira. Ao vê-la, ficou admirado com sua beleza e inundado de êxtase transcendental. Esticou sua mäo para dentro das águas do Kunja e trouxe para fora essa tornozeleira diferente, Entäo, encontrando um pedaço de pano que parecia a beira de um manto feminino preso à tornozeleira, pensou em procurar a proprietária da tornozeleira a fim de devolvê-la.

Naquele local, naquela mesma manhä, vendo que a tornozeleira do pé esquerdo de Sri Radha Thakurani estava sumida, suas amigas gopis emudeceram. Sri Radha Thakurani disse: "Ontem à noite enquanto dançava com Krishna às margens do Kunja, a tornozeleira deve ter caído no Kunja; väo lá, e depois de encontrá-la, devolvam para Mim." Visakha Devi foi para a beira do Kunja e começou a procurar e procurar pela tornozeleira. Enquanto ela procurava, encontrou Dukhi Krishna Das, que naquela hora estava enchendo seu pote d'água no Kunja.

Visakha Devi perguntou a ele: "Encontraste uma tornozeleira por aqui?" Dukhi Krishnadasa, vendo esta linda moça que parecia uma deusa do céu, ficou maravilhado com sua refulgência. Ao ouvir as palavras ambrosíacas desta deusa imortal, ficou mudo de êxtase de amor por Deus. Visakha Devi novamente lhe perguntou: "Achou uma tornozeleira perto daqui?" Dukhi Krishna Das humildemente ofereceu suas respeitosas reverências e mansamente falou: "Sim, está comigo. Por favor, diga-me quem és?" Visakha disse: "Sou a filha de um gopa."

"Onde moras?"
"Moro nesse vilarejo."
"A tornozeleira é tua?"
"Näo, näo é minha. Na minha casa há uma moça recém-casada..."
"Como foi perdida aqui?"
"... Ontem quando ela pegava flores aqui no Kunja, de alguma maneira escapou de seu pé e perdeu-se na água. Vim aqui para achar a tornozeleira. Espere aqui, e a trarei."

Pouco depois, Sri Radha Thakurani veio com Visakhadevi e escondeu-se atrás de uma árvore. Visakha devi disse: "ó devoto! Ela veio pegar a tornozeleira." A certa distância, Dukhi Krishnadas conseguia ver a brilhante refulgência da filha do Rei Vrishabhanu, e se sentiu como se sua alma tivesse sido arrebatada de seu corpo. Em grande bem-aventurança transcendental ele deu a tornozeleira para Visakhadevi. Na hora ele teve alguma intuiçäo que um grande mistério lhe estava sendo revelado. Com seus olhos cheios de lágrimas de krishna-prema, ele caiu ao solo e ofereceu reverências prostradas em total submissäo. Sua voz ficou estrangulada de tanto êxtase. Naquele momento Visakha Devi disse: "ó melhor dos devotos, minha amiga queria muito demonstrar sua gratidäo concedendo-lhe uma bençäo. Pode pedir o que quiser."

Dukhi Krishnadas replicou: "Näo há nada que eu queira; apenas oro para tomar a poeira dos pés de lótus dela."

Visakha Devi redarguiu: "Tome um banho nesse Kunda." Dukhi Krishnadas foi banhar-se no Kunda, ofereceu suas reverências, e entäo, ao imergir-se na água, ele assumiu a forma de uma belíssima jovem. Retornando a Visakhadevi, Dukhi Krishnadas ofereceu respeitos a ela. Visakhadevi levou a nova gopi para Sri Radha Thakurani. A nova gopi ofereceu suas reverências na poeira dos pés de lótus de Sri Radha. As sakhis sentaram a nova gopi no meio delas. Na ocasiäo, Sri Radharani aplicou um pouco de kumkum na tornozeleira e fez uma marca de tilaka na cabeça da nova gopi, dizendo: "Esta tilaka tem que permanecer em tua testa. A partir de hoje, teu nome será Shyamananda. Agora vá." Com isso, Radha Thakurani com todas suas amigas gopis, desapareceu. O samadhi de Dukhi Krishnadas rompeu-se. Na água ele conseguia enxergar no seu reflexo a refulgente marca de tilaka que a tornozeleira deixara em sua testa.

Seu coraçäo encheu-se de espanto ante a visäo, e pensou consigo mesmo: "O que acabo de ver!" Dizendo isto, começou a chorar de alegria. Depois disso, oferecendo centenas e centenas de oraçöes a Sri Radha Thakurani, ele retornou aos pés de lótus de Sri Jiva Goswami.

Ao ver a nova marca de tilaka que brilhava com tanta refulgência na testa de Dukhi Krishnadas, Jiva Goswami emudeceu. Ele indagou quanto à sua origem. Dukhi Krishnadas curvou-se perante seu mestre e com os olhos rasos d'água, relatou toda a história a Jiva Goswami. Ao ouvir isso, Jiva Goswami ficou supremamente contente. Ele disse: "Näo revele a história desse milagre às pessoas em geral. A partir desse dia seu nome será Shyamananda."

Notando a mudança de nome e tilaka de Dukhi Krishnadas, a comunidade Vaisnava passou a falar sobre ele. Gradualmente a notícia chegou até Ambika Kalna em Gauda desh. Ouvindo que seu discípulo havia modificado seu nome e tilaka, Hridaya Chaitanya ficou irado. Rapidamente ele partiu para Vrindavana. Quando ele chegou ao local onde Krishnadas ficava, Krishnadas caiu diante dos pés de lótus de seu gurudev, oferecendo seus dandavats. Sri Hridaya Chaitanya, vendo a nova tilaka na fronte de seu discípulo, ficou muito irado e disse: "Sua conduta é abominável, está me desgraçando!" Dessa maneira ele reclamou com Dukhi Krishnadas e golpeou-o repetidamente, enquanto os Vaisnavas faziam o que podiam para pacificar Hridaya Chaitanya Prabhu. Dukhi Krishnadas aguentou o castigo de seu guru com um rosto alegre, pois ele sabia que nunca tinha deixado o serviço a seu guru maharaja.

Naquela noite, Sri Hridaya Chaitanya Prabhu teve um sonho em que via Sri Radha Thakurani. Srimati Radharani reclamou com Hridaya Chaitanya, dizendo: "Porque Sri Dukhi Krishnadas me agradou muito, dei-lhe este novo nome e tilaka. Porque o instruiste de outra forma?" Hridaya Chaitanya caiu aos pés da princesa de Vraja orando por perdäo, percebendo que cometera uma grande ofensa.

Na manhä seguinte, Sri Hridaya Chaitanya chamou Shyamananda Prabhu para perto de si e e abraçou-o afetuosamente repetidamente. Com lágrimas de êxtase em seus olhos falou a seu discípulo: "Você é muito afortunado." Alguns dias mais tarde, Sri Hridaya Chaitanya deixou Vrajadhama. Dias depois, Jiva Goswami ordenou que Shyamananda Prabhu retornasse a Gauda desh.

Shyamananda Prabhu, Srinivasa Acharya, e Narottama Das Thakura, muito contentes, tinham passado muitos dias estudando as escrituras dos Goswamis sob a tutela de Sri Jiva Goswami e moviam-se através de Vrindavana como humildes mendicantes, praticando Madhukari. Estes três devotos praticavam seu madhukari e realizavam seu bhajan como se fossem um só. Dessa maneira, eles estavam bem fixos e determinados em seu serviço devocional.

Desta maneira, tendo sido convidados pelos Goswamis, os três foram pregar a mensagem de Sri Chaitanya Mahaprabhu, especialmente como encontra-ses nas escrituras dos Goswamis. Certo dia, Jiva Goswami chamou os três juntos e revelou-lhes como realizar a vontade dos Goswamis. Os três curvaram suas cabeças e receberam as ordens de Jiva Goswami com grande respeito. Depois disso, num dia auspicioso, após ver Jiva Goswami, que confiou as escrituras sagradas dos Goswamis a eles, os três partiram para Gauda-desh.

No caminho, o Rei de Vanavishnupura, Birhambir, fez com que seus homens roubassem as escrituras deles. A fim de recuperar as escrituras roubadas, Srinivas Acharya ficou para trás. Sri Narottama Thakura foi a Kheturigram e Shyamananda Prabhu retornou a Ambika Kalna. Ao chegar a Ambika Kalna, Shyamananda Prabhu ofereceu seus respeitos aos pés de lótus de Hridaya Chaitanya. Os dois se abraçaram com grande júbilo e afeiçäo, e Hridaya Chatanya indagou sobre o bem-estar dos grandes devotos e Goswamis em Vrindavana. Ao ouvir sobre o roubo das escrituras dos Goswamis, Hridaya Chaitanya ficou profundamente chocado e desapontado. Logo, Shyamananda estava novamente oferecendo serviço aos pés de lótus de seu gurudeva Hridaya Chaitanya Prabhu. Após alguns dias, Shyamananda Prabhu ficou completamente absorvido em guruseva e sua felicidade crescia dia a dia. Quase todos associados pessoais de Sri Chaitanya em Utkala desh nessa altura tinham desaparecido um a um, e entrado nos passatempos imanifestos do Senhor. A pregaçäo da mensagem de Chaitanya Mahaprabhu quase que deseparecera. Sri Hridaya Chaitanya, ao ouvir tudo isso, ficou muito preocupado. Entäo ordenou que Sri Shyamananda Prabhu fosse a Utkala desh e pregasse a mensagem dos Goswamis e os ensinamentos de Sri Chaitanya. Ao deixar seu gurudeva, Shyamananda sentiu grande pesar em seu coraçäo. Compreendendo seu coraçäo, Hridaya Chaitanya chamou Shyamananda para junto dele e fez com que entendesse sua preocupaçäo. Sem ter outra alternativa, Shyamananda Prabhu partiu para Utkala com as ordens do guru sobre sua cabeça. A caminho de Utkala, passou por seu antigo vilarejo de Dharendra Bahadurpur. Ao ver o próprio Dukhi deles de volta ao lar depois de tanto tempo longe, o povo da vila ficou extremamente contente. Por alguns dias ele ficou por ali e pregou o santo evangelho de Sri Chaitanya. Muitas pessoas ouviram-no e encantadas com ele, refugiaram-se em seus pés de lótus.

Depois disso, ele chegou a uma cidadezinha chamada Dandeshwar. Ali Sri Krishna Mandala vivera antigamente. Shyamananda Prabhu abençoou a cidade de Dandeshwar e os devotos que ali viviam através de sua santa associaçäo, para a extrema felicidade de todos eles. Por muitos dias ele pregou Harikatha e realizou um grande festival ali. Muitas pessoas, ao ouvirem a divina mensagem de Shyamananda Prabhu, ficaram encantadas com sua santidade e tornaram-se discípulas dele. Finalmente, Shyamananda Prabhu chegou a Utkala, santificando o solo dali com sua santa presença e novamente ele começou a pregar a mensagem de Sri Chaitanya em todo lugar.

As margens do rio Suvarna-rekha vivia um piedoso zamindar chamado Achyutadeva. Rasikananda era o nome de seu único filho. Desde quando era menininho, ele era um modelo de krishna-bhakti. Visando sua educaçäo, o pai contratara alguns sábios eruditos para ensiná-lo. Rasikananda estudava na casa dos Pandits. Porém näo tinha interesse pelo conhecimento mundano. Em tudo que estudava ele achava que Hari-bhakti era a conclusäo suprema. Afinal tornou-se ansioso por abrigar-se nos pés de lótus de um guru Vaisnava. Certo dia ele estava sentado sozinho, pensando. Nesse momento, ouviu uma voz dizendo: "Rasikananda! Näo fique aí matutando. Brevemente um grande devoto, um mahabhagavat chamado Shyamananda Prabhu virá até aqui; procure-o e abrigue-se em seus pés de lótus." Ouvindo essa voz divina, sentiu-se um tanto encorajado. A partir daí, ficou muito desejoso de ver Shyamananda Prabhu e estava sempre olhando a estrada na expectativa de sua chegada.

Alguns dias depois, Sri Shyamananda Prabhu junto com seus discípulos fez sua entrada auspiciosa na casa de Rasikananda dev, no vilarejo chamado Rohini, às margens do Suvarna-rekha. O deleite de Sri Rasikananda dev näo tinha limites. Ele prestou suas plenas reverências num humor de grande humildade e acolheu Sri Shyamananda Prabhu em sua casa, onde lhe ofereceu o tradicional puja, e fez com que todos seus amigos, parentes, e crianças se rendessem aos pés de lótus de Shyamananda. Ficou acertado que num dia auspicioso, Shyamananda iniciaria Rasikananda dev Prabhu no mantra Radha-Krishna. Eles principiaram o cantar de Hare Krishna em sankirtan no lar de Rasikananda dev com todos outros devotos, convidando todos amigos e parentes a participarem. Todo mundo no vilarejo ocupou-se em Sankirtana-yajna, e tomou darshan de Shyamananda Prabhu. Abismado com as maravilhosas explicaçöes da mensagem de Gaura-Nityananda, todos se abrigaram em seus pés de lótus. Dessa forma, a cidadezinha de Rohini tinha muitos discípulos de Sri Shyamananda Prabhu.

Na cidade de Rohini havia um grande yogi chamado Damodara. Certo dia ele foi tomar darshan de Sri Shyamananda Prabhu. De longe ele enxergou uma divina refulgência brilhante como o sol, a qual emanava de Shyamananda Prabhu, ofuscando sua visäo. A seguir, enquanto se aproximava do grande acharya, ele caiu a seus pés de lótus e ali se abrigou, oferecendo muitas oraçöes em submissäo. Devolvendo o respeito demonstrado pelo yogi, Shyamananda Prabhu, os olhos cheios d'água, disse: "Caso sua santidade desejar desenvolver a pureza divina, por favor apenas cante sempre os santos nomes de Gaura e Nityananda. O Senhor é supremamente misericordioso. Se apenas fizer isto, Ele lhe concederá krishna-prema." Ao ouvir o que Shyamananda Prabhu dissera, o coraçäo de Yogi Damodara derreteu. Ele respondeu: "Se por gentileza me conceder sua misericórdia, adorarei os pés de lótus de Gaura-Nityananda a partir de agora." Shyamananda Prabhu deu suas bençäos ao yogi, e concedeu-lhe sua misericórdia transcendental. Yogi Damodara tornou-se um grande devoto de Sri Sri Gaura Nitai. Ele costumava cantar constantemente os santos nomes de Gaura e Nityananda com lágrimas de alegria jorrando de seus olhos.

Em Balaram Pura viviam muitas pessoas ricas. Ouvindo sobre as glórias de Shyamananda Prabhu, as pessoas dali tornaram-se muitos ansiosas por vê-lo. As pessoas piedosas, fieis, e santas dali começaram a orar com grande sinceridade para que Shyamananda Prabhu viesse e visitasse Balaram Pura. Logo, Shyamananda Prabhu deu-lhes sua misericórdia. Ele prometeu responder ao convite. Pouco tempo depois, Shyamananda Prabhu chegava a Balaram Pura com Rasikananda dev e Yogi Damodara, bem como muitos outros de seus discípulos e devotos. O êxtase das pessoas santas em Balaram Pura era ilimitado. Ofereceram puja aos pés de lótus de Shyamananda Prabhu, e conduziram seu bhajan de modo muito belo, observando todas regras e regulamentos adequados dos shastras. Alguns dias depois, realizaram grande festival de kirtana e hari-katha em Balarama Pura. Muitas pessoas vieram e se renderam aos pés de lótus de Sri Shyamananda Prabhu.

Depois disso, Shyamananda Prabhu foi a Nrishingha Pura. Em Nrishingha Pura havia uma porçäo bastante grande de ateístas, agnósticos, e blasfemadores. Depois de alguns dias, Shyamananda Prabhu realizou um festival de sankirtana. Os pandits agnósticos e ateístas foram ver Shyamananda Prabhu e escutaram suas explicaçöes doces e nectáreas de hari-katha. Por ouvir suas palavras, seus coraçöes ficaram emocionados. Aceitaram refugiar-se nos pés de lótus de Shyamananda Prabhu.

Dia após dia, a notícia das glórias de Shyamananda chegava a Utkala. De Nrishingha, Shyamananda Prabhu foi até Sri Gopi Valabha Pura. Ali residiam muitas pessoas abastadas. Depois de tomar darshan de seus pés de lótus, elas ficaram admiradas. Quase todas aceitaram abrigar-se aos pés de lótus de Shyamananda Prabhu. Oraram a seus pés para que ele instalasse umas deidades, a fim de que pudessem ocupar-se na adoraçäo das deidades. Suplicaram-lhe com grande sinceridade que fizesse isto. Logo depois, os devotos haviam estabelecido um templo do Senhor com saläo de kirtana, uma despensa para guardar bhoga, e uma cozinha especial onde as refeiçöes do Senhor podiam ser preparadas, bem como um ashram onde os servos das deidades podiam viver, e uma casa de hóspedes para Vaisnavas visitantes. Próximo ao templo tammbém construíram um pequeno laguinho e belos jardins. Brevemente, realizaram um grande festival, e na ocasiäo Shyamananda Prabhu instalou as deidades: Radha-Govinda. Quando a cerimônia de instalaçäo e festival foram concluídos, Shyamananda Prabhu partiu para sua cidade-natal de Utkala. Ao ver a beleza encantadora das deidades Radha-Govinda, todos sentiram paz em seus coraçöes. Depois que Shyamananda Prabhu partira para Utkala, os residentes de Gopi Valabha Pura encarregaram Rasikananda Prabhu da responsabilidade pelo serviço às Deidades.

Chegando em Utkala Pura, Sri Shyamananda Prabhu pregou a mensagem de Gaura Nityananda, e finalmente, retornando a Ambika-Kalna, ele prestou seus respeitos aos pés de lótus de Sri Hridaya Chaitanya. Tendo oferecido seus respeitos e oraçöes a Hridaya Chaitanya Prabhu, contou-lhe tudo sobre sua bem-sucedida pregaçäo da mensagem de Gaura Nityananda em Utkala, Dandeshwar, Rohini, Balaram Pura, Nrishingha Pura e Gopi Valabha Pura. Ouvindo sobre as vitórias de seu discípulo, Sri Hridaya Chaitanya afetuosamente abraçou Shyamananda Prabhu.

Depois de algum tempo, Sri Shyamananda Prabhu foi convidado ao famoso festival em Kheturigram, terra natal de Narottama Das Thakura. Após receber seu convite, Shyamananda Prabhu e seus discípulos partiram em direçäo de Kheturigram. Após chegarem lá, encontraram seus amigos de toda vida: Narottama Thakura e Srinivas Acharya. Abraçando cordialmente uns aos outros, flutuaram nas ondas da felicidade. Nesse festival, Jahnava Mata, Sri Raghunandan Thakura, Sri Achyutananda, e Sri Vrindavana Das Thakura, outros eternos associados de Sri Gaurachandra, bem como muitas grandes almas e devotos importantes agraciaram todos ali através de suas presenças. Quando o festival chegou ao fim, Sri Shyamananda Prabhu disse adeus a todos devotos reunidos e novamente voltou sua face na direçäo de Utkala, a fim de realizar a jornada da volta.

A caminho de Gauda Desh, parou na cidade de Kanthak Nagara, na casa de Gadadhara Das Thakur; em Yajigrama, na casa de Srinivas Acharya; e em Sri Khanda na casa de Raghunandana Thakura. Depois daquela época, muitos dos associados eternos de Sri Chaitanya Mahaprabhu faleceram e entraram nos eternos passatempos imanifestos do Senhor. Após algum tempo, Shyamananda Prabhu chegou em Utkala. Passando de casa em casa de devoto, ele ía de cidade em cidade, e agraciou muitos devotos com suas bençäos. Brevemente chegou a Sri Gopi Valabha Pura. Na ocasiäo escutou notícias do falecimento de seu guru, Sri Hridaya Chaitanya. Ao ouvir tal notícia trágica, Sri Shyamananda Prabhu desmaiou. Ele caiu num estado de completa ansiedade, desapontamento e perplexidade. Naquela noite, contudo, sonhou com Hridaya Chaitanya, que o encorajava a pregar.

De Utkala desh, as glórias de Shyamananda Prabhu foram pregadas às quatro direçöes. Como resultado de sua influência, a adoraçäo constante e serviço de Gaura e Nityananda foram estabelecidos largamente. Rasikananda, Sri Murari, Radhananda, Purushotama, Manohara, Chintamani, Balabhadra, Sri Jagadishvara, Gadadhara, Anandananda e Sri Radha Mohan e outros foram os mais queridos discípulos confidenciais de Shyamananda Prabhu.

Srila Shyamananda Prabhu, tendo sido bem-sucedido em suas muitas campanhas de pregaçäo, retornou a Gopi Valabha Pura, e ali, após alguns dias, realizou-se um grande festival. Depois disso, durante o mês de Asarh, no dia de Krishnapratipada, o grande acharya Shyamananda Prabhu entrou na lila eterna do Senhor. Seu samadhi encontra-se em Gopi Valabha Pura, onde o serviço de sua deidade continua até os dias de hoje.

Sri Ramachandra Kaviraja

Srila Narotama Dasa Thakura cantou: "daya koro sri acharya prabhu srinivasa ramachandra mage narotama dasa" - "ó Srinivasa Acharya Prabhu, tenha a bondade de conceder-me tua graça; Narotama Dasa sempre ora pela associaçäo de Ramachandra Kaviraja."

Sri Ramachandra Kaviraja era um dos associados internos de Narotama Dasa Thakura. Ambos eram praticamente inseparáveis. Sri Ramachandra Kaviraja obtivera a plena misericórdia e bençäos de Srinivasa Acharya. O pai de Sri Ramachandra Kaviraja era Ciranjiva Sena - e sua mäe era Sri Sunanda. Primeiro Ciranjiva Sena vivia em Kumara Nagara. Depois que casou com a filha do poeta Sri Damodara Kavi, mudou-se para o vilarejo de Sri Khanda. Ciranjiva Sena era um Mahabhagavata, um dos maiores devotos do Senhor. Os devotos de Sri Khanda, liderados por Narahari Sarakara Thakura todos tinham grande afeiçäo e respeito por Ciranjiva.

Ciranjiva é mencionado no Chaitanya-Charitamrita por Krishnadasa Kaviraja Goswami como segue (C.C.Madhya 11.92): "Gopinatha Acharya continuou a apontar os devotos (para Prataparudra Maharaja). 'Aqui temos Suklambara. Ali, temos Sridhara. E aqui, Vijaya, e lá Valabha Sena. Esse é Purushotama, e aquele Sanjaya. E aqui estäo todos residentes de Kulina-Grama, tais como Satyaraja Khan e Ramananda. De fato, todos estäo aqui presentes. Veja por favor. Aqui estäo Mukunda Dasa, Narahari, Sri Raghunandana, Ciranjiva e Sulochana, todos residentes de Khanda. Quantos nomes lhe direi? Todos devotos que se vê aqui säo associados de Sri Chaitanya Mahaprabhu, que é a vida e alma deles.' O rei disse: 'Ao ver todos esses devotos, sinto-me muito maravilhado, pois nunca vi tamanha refulgência. Na verdade a refulgência deles é como o brilho de um milhäo de sóis. Tampouco ouvi os nomes do Senhor cantados täo melodiosamente.'"

Mukunda Dasa, Narahari, Sri Raghunandana, e Ciranjiva todos viviam em Khanda. Eram como um só, pois a meta de vida deles era a mesma, e cada ano na época do festival Rathayatra costumavam ir a Jaganatha Puri dhama para tomar o darshana dos sagrados pés de Sri Chaitanya Mahaprabhu, para participarem do kirtana e vê-Lo dançar e cantar.

Ciranjiva Sena nascera numa família vaidya, isto é, da casta de médicos. Seus dois filhos eram Sri Ramachandra e Sri Govinda. Estes dois filhos eram grandes jóias. Ambos obtiveram a misericórdia de Srinivasa Acharya Prabhu, depois do que foram viver em Teliya-Budhari-Grama. Budhari-Grama fica no distrito de Murshidabad.

Ramachandra Kaviraja era especialmente entusiasmado, sincero, perseverante, energético, inteligente, e belo. Seu avô materno era Sri Damodara Kaviraja, que era famoso como grande poeta. Ele costumava instruir as pessoas na filosofia dos shaktas. Também era iniciado na senda do dharma seguido pelos shaktas.

Depois do falecimento do pai deles, Ciranjiva, Sri Ramachandra e Sri Govinda foram viver no local do avô deles, Damodara Kaviraja. Como viviam com seu avô erudito, seguidor do shaktismo, gradualmente também foram infectados com sua filosofia anti-devocional, embora o pai deles fosse grande devoto mahabhagavata e associado pessoal de Sri Chaitanya Mahaprabhu. Ramachandra Sena tornou-se médico e gradualmente ficou famoso como poeta altamente erudito também.

Certo dia, Ramachandra Kaviraja estava na estrada para Yajigrama, voltando de seu casamento. Na hora, Srinivasa Acharya passava pela estrada, acompanhado de seus seguidores.

Certo dia Srinivasa Acharya estava em Yajigrama em sua própria casa, onde muitos devotos haviam se reunido para ouví-lo palestrar sobre o Srimad-Bhagavatam. Entäo Ramachandra Kaviraja, filho de Ciranjiva Sena (um dos associados eternos de Mahaprabhu), passou pela casa de Srinivasa Acharya. Acabava de se casar, e junto com sua noiva, voltava do casamento.

De longe, Srinivasa Acharya viu Ramachandra Kaviraja e este também viu Srinivasa Acharya a distância. Ao se verem de longe, um profundo humor de amizade surgiu no coraçäo desses dois devotos eternamente perfeitos de Sri Gauranga. Depois de se verem, tiveram desejo de se conhecer. Srinivasa Acharya perguntou sobre Ramachandra Kaviraja ao povo local. Disseram que era um grande pandita chamado Ramachandra - um poeta erudito e médico perito de uma família de médicos e sábios. Ouvindo tudo isso, Srinivasa Acharya sorriu de contentamento.

Ramachandra Kaviraja ouvira falar de Srinivasa Acharya e queria obter seu darshana. Assim, finalmente foi até a casa de Srinivasa Acharya junto com sua noiva e foram apresentados por algumas das pessoas do lugar. O dia passou rapidamente em discussäo de Hari-katha. Passaram a noite onde estavam desde que haviam chegado a Yajigrama, na casa de um brahmana perto do lar de Srinivasa Acharya, e na manhä seguinte foram até Srinivasa Acharya e caíram diante de seus pés,oferecendo reverências prostradas.

O Acharya pediu que Ramachandra Kaviraja se levantasse do chäo, e cordialmente o abraçou: "Vida após vida tens sido meu amigo. A providência nos reuniu novamente hoje, arranjando nosso encontro." Ambos sentiram grande felicidade por terem se encontrado. Vendo que Ramachandra possuía uma inteligência aguda e transcendental, profundamente sábia, Srinivasa estava muito contente. Começou fazendo-o ouvir as escrituras dos Goswamis. O comportamente puro de Ramachandra, sempre de acordo com as escrituras, agradava muito a Srinivasa Acharya, e depois de alguns dias o Acharya iniciou-o no divino mantra Radha-Krishna.

Passados alguns dias, Ramachandra Kaviraja deixou Yajigrama e retornou a seu próprio vilarejo. Na época, os shaktas locais ficaram com inveja dele, vendo que fora iniciado na fé Vaishnava. Ramachandra Kaviraja sempre marcava seu corpo com as doze marcas de tilaka dum devoto, e sempre cantava o Santo Nome de Hari.

Certo dia, após banhar-se no Ganges, Ramachandra Kaviraja estava a caminho de casa quando os shaktas o confrontaram dizendo: "Kaviraja! Porque näo adora Shiva? Teu avô Damodara Kaviraja era um grande devoto de Shiva, entäo porque abandonaste a adoraçäo dele?"

Ramachandra disse: "Tanto Shiva quanto Brahma säo guna-avataras, encarnaçöes qualitativas do Senhor, porém Krishna é a raiz de todos avataras, todas encarnaçöes. Simplesmente por adorar Krishna toda adoraçäo é realizada, assim como ao regarmos a raiz duma árvore, todas folhas e ramos säo automaticamente alimentadas. Prahlada, Dhruva, Vibhisana e outros que eram os queridos devotos de Krishna säo sempre glorificados por Brahma e Shiva. Por outro lado, Ravana, Kumbhakarna, Vanasura, e outros tinham inveja de Krishna e devotavam-se exclusivamente a Shiva. Mas porque tinham inveja de Krishna, o próprio Shiva encarregou-se de destruí-los.

Quando Brahma cria o universo, ele ora a Vishnu pelo sucesso no processo da criaçäo. E Shiva também se submete ao Senhor Vishnu, aceitando em sua cabeça o Ganges, cuja água lavou os pés de lótus de Vishnu e que santifica os três mundos."

Ao ouvir isto, os smarta brahmanas, adoradores materialistas de Shiva conhecidos como shaktas, ficaram sem palavras.

Gradualmente, Ramachandra Kaviraja tornou-se ansioso por ir a Vrindavana e tomar darshana dos sagrados pés dos Goswamis ali. Após recber a permissäo e bençäos de vários Vaisnavas da Bengala, incluindo Sri Raghunandana Thakura, partiu para Vrindavana num dia auspicioso. A caminho de Vridavana, visitou Gaya, Kasi, Prayaga, e muitos outros locais sagrados. Afinal chegou a Mathura. Ali ele se banhou no Yamuna em Vishrama ghata, e depois do banho, descansou por algum tempo. Tomou darshana da Deidade Adi Keshava no local de nascimento de Sri Krishna e entäo continuou seu caminho para Vrindavana.

Naquela época, Srinivasa Acharya estava hospedado em Vrindavana. Chegando lá, Ramachandra Kaviraja ofereceu suas reverências aos pés de lótus de Sri Jiva Goswami e Srinivasa Acharya e transmitiu aos devotos dali as notícias auspiciosas sobre os devotos de Bengala. Por ordem de Jiva Goswami, Ramachandra Kaviraja foi visitar as três Deidades principais de Vrindavana: Sri Madana-Mohan, Sri Govinda, e Sri Gopinatha, bem como o mausoléu memorial ou samadhi de Sanatana Goswami. Tomou darshana dos sagrados pés dos principais Goswamis que residiam em Vrindavana na época, inclusive Sri Lokanatha Goswami, Sri Gopala Bhata Goswami e Sri Bhugarbha Goswami. Ao verem a maravilhosa perícia de Ramachandra em compor lindos versos glorificando Sri Krishna, deram-lhe o título "Kaviraja", em reconhecimento por sua erudiçäo.

Após passar algum tempo em Vrindavana sob a guia dessas grandes almas, e depois de visitar os locais sagrados importantes, Ramachandra recebeu ordem dos Goswamis para retornar a Bengala. Chegando à Bengala, passou por Sri Khanda, Yajigrama, Khadadaha, Ambika Kalna, e outros centros Vaisnavas famosos, antes de chegar a Navadwipa, onde visitou Mayapura. Ali, foi até a antiga casa de Jaganatha Mishra, onde encontrou o velho servo da família de Mahaprabhu: Ishana Thakura. Após apresentar-se, pegou a poeira dos santos pés de Ishana e orou por suas bençäos, que recebeu. Ramachandra Kaviraja era extremamente querido por Srinivasa Acharya, e por essa razäo, Narotama Thakura considerava Ramachandra Kaviraja como sua própria vida e alma. Uma discussäo de seus passatempos conjuntos encontra-se no capítulo sobre Narotama Dasa Thakura deste livro (Vida dos Santos Vaisnavas).

Sri Ramachandra Kaviraja salvou muitos pecadores e descrentes, concedendo-lhes uma vida de auspiciosidade como resultado de sua misericórdia. No festival em Kheturi-grama, ele era um dos líderes. Por ordem de Narotama Dasa Thakura e Srinivasa Acharya, ele novamente foi a Vrindavana. Ao chegar lá, descobriu que quase todos Goswamis tinham falecido. Ao saber disso, seu coraçäo sentiu profunda dor. Depois de alguns dias em Vrindavana, sentindo a dor da separaçäo, dessa maneira, enquanto meditava profundamente nos pés de lótus de Sri Radha e Govinda, ele entrou em seus passatempos eternos de Vrindavana. O dia de seu desaparecimento é o terceiro dia da lua obscura do mês de Pausha.

O discípulo de Sri Ramachandra Kaviraja era Sri Harinama Acharya. Ramachandra Kaviraja compôs muitos versos lindos glorificando Sri Gauranga. A seguinte cançäo é um exemplo das muitas oraçöes compostas por Sri Ramachandra Kaviraja. Nessa cançäo ele glorifica a misericórdia transcendental inconcebível do Senhor Sri Krishna Chaitanya Mahaprabhu, que descendeu para salvar todas almas na densa obscuridade da era de Kali; nela ele também expressa sua profunda humildade Vaishnava, lamentando que foi incapaz de provar mesmo uma gota da graça do Senhor.

Cançäo por Ramachandra Kaviraja

dekha dekha are bhai gauranga canda parakasha
purnimara canda yena udita akasha
simharasi paurnamasi gaura avatara
chadala yuger bhara dharani nistara
mahitale achaye yateka jivatapa
harala sakala pahun nijahi pratapa
kaliyuge tapa-japa nahi kona tantra
prakashila mahapratu hare-krishna mantra
premera vadara kari bharila samsara
pataki naraki saba paila nistara
andha avadhi yata kare parakasha
bindu na padila mukhe ramachandra dasa

"Vejam só, vejam só irmäos, Sri Gauranga surgiu como uma lua dourada. Assim como a lua cheia surgiu no céu, outra lua mais cheia na forma do Gaura avatara, surgiu só para salvar a todos nós dessa era obscura de ignorância.

Sua misericórdia tira todo sofrimento das almas jivas. Japa, mantras, austeridades e outros rituais säo todos inúteis para purificaçäo na era de Kali. O único meio de salvaçäo é o hare krishna mantra. Mahaprabhu é täo bondoso que manifestou o néctar do Santo Nome, para que as almas nessa era obscura possam ser libertadas do ciclo de repetidos nascimentos e mortes, e duma vida infernal nos sistemas planetários inferiores, e experimentarem o amor divino.

Que a pessoa seja cega ou muda näo importa; todos podem afogar-se nessa inundaçäo. Dessa forma Chaitanya Mahaprabhu inundou todo mundo de amor por Deus, mas Ramachandra Dasa é täo desafortunado que näo pode sequer saborear apenas uma gota desse néctar."